Home office, só que não

Monica Martin
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readJul 2, 2021

Despertei naquela manhã, intrigada. Dúvidas pairavam no ar. Um dia de agenda intensa. Desviei das minhas incertezas e segui firme para o café da manhã, o jornal (virtual) e o home office. Experiência adquirida, sem sobressaltos há mais de 6 meses. Exatamente às 9 horas, o silêncio foi bruscamente interrompido por uma furadeira ensandecida e um martelo furioso no andar de cima. Retornei para a cozinha em busca de um café, na esperança de que tudo aquilo fosse passageiro. Ledo engano. Até então, minhas reuniões virtuais eram perturbadas pelas “…deliciosas pamonhas, pamonhas de Piracicaba” ou “…está passando o carro dos ovos, 30 ovos por 10 reais”. Divertido, tirava boas risadas dos ouvintes. Sim, ouvintes. Já acostumada a falar para uma tela escura, todos com a câmera desligada. Incomodada pela barulheira, Lola, a vizinha canina recém adotada, latia sem parar. Tudo pode piorar, pensei.

Quase 10 horas. Minha apresentação preparada e revisada há semanas. Pensei alternativas. Ir para a casa de alguém. Ninguém próximo o suficiente. Padaria da esquina. O cenário atual não recomendava. Atormentada por tanta incerteza, me vi ainda de pijama. Corri para o quarto: base e rímel no rosto, cabelo preso, uma camisa e um colar, mais a calça do pijama e os chinelos. Nada mais a fazer, a não ser acessar a reunião e já pedir desculpas antes mesmo do bom dia. Notebook ligado, apresentação aberta e a garrafa de água. A novidade era o barulho infernal de golpes sem piedade nas paredes do vizinho. Faltavam 15 minutos. Momentos de tensão. Escutei um “plim” no celular. Mensagem do chefe no grupo da empresa: “ pessoal, bom dia! vou remarcar nossa reunião, estou sem internet. me desculpem…”.

001jul

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Monica Martin
Clube da Escrita Afetuosa

Apaixonada por ouvir pessoas, estimular ideias e a construção de projetos de vida. Amo livros, boas conversas e longas caminhadas. Da escrita, uma aprendiz.