Letras-Papão

Jaqueline Rolim
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMar 2, 2022

Eu tinha uns 9 anos quando minha professora descobriu a escritora que há em mim. Escrevi uma redação e ela se apaixonou, disse que mandaria para uma revista, mas não chegou a ser publicada. Não gostei da descoberta. Na época, eu acreditava que pessoas inteligentes eram aquelas que entendiam de matemática, que eram frias e racionais, não aquelas das letras e dos sentimentos. Pensava assim por enxergar nosso mundo machista onde os homens eram considerados os melhores, conseguiam os melhores cargos e eu acreditava que era por serem mais inteligentes e racionais. Tinha medo de me sentir e ser taxada como menos inteligente se optasse por me expressar através dos meus textos.

Pautei minha vida nessa ideia, aprendi matemática, lógica e me formei contadora. Até pouco depois dos 30 anos, eu mantive esse pensamento que foi sendo desconstruído aos poucos, com ajuda de terapia e estudos, e um dia me permiti escrever.

Passado esse medo surgiu outro. A escrita te leva a um mundo interno que você nem imagina que exista, foi o que aconteceu comigo. A escrita te despe e mostra tudo o que você é. E se eu me mostrar assim para o mundo, mostrar o meu tudo, e aí aparece a questão vital: e se eu apresentar para o outro tudo o que eu tenho e ele não gostar? E se eu aparecer assim, despida de máscaras e cascas, e for atacada na minha carne exposta?

É preciso muita coragem para prosseguir. Mas se você usa um pouquinho da sua coragem e se permite, você percebe que quanto mais profundo você entra em si, mais você descobre sobre seu infinito. Isso, é nisso que acredito, que há realmente um infinito em nós e por mais que nos conheçamos bem, sempre haverá algo a se descobrir, algo novo para a gente mostrar.

E assim vou caminhando com pequenos passinhos rumo ao desconhecido, enfrentando meus medos a cada novo texto.

#01fev22

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