Maternar

Adotei a Chloé sete anos atrás. Nos conhecemos em uma festa junina promovida pela ONG em que ela — e seus onze irmãos — nasceram. A entrada custava R$10, para ajudar a organização, mas lá dentro havia jóias raras. Passei pela tenda da pescaria, resisti à banca do quentão e do pinhão, cheguei ao pátio e de longe avistei uma bola de pelos pretos, aninhada no colo de um jovem.

- Que lindo! É seu? Ou está para adoção?

- Está para adoção, é uma fêmea. Ela se chama Wednesday, como a Vandinha, da Família Adams.

Foi amor à primeira vista. As patinhas não enganavam, ainda cresceria bastante. De acordo com a voluntária da ONG, isso era o menos importante. O fundamental era garantir que eu realmente me responsabilizaria por aquele pequeno ser. Afinal, é fácil se encantar com filhotes de cachorro, mas os cuidados no dia a dia fazem com que muitos devolvam os pequenos à ONG ou, pior ainda, os abandonem. Para sair dali com a Wednesday, que logo se chamaria Chloé, respondi “sim” para cerca de 30 perguntas. Passeio diário, cuidar da alimentação, castração quando chegar a hora, vacinas, cuidado com pulga, carrapato e vermes e, acima de tudo e em todas as horas, ser fonte de carinho.

Cheguei em casa e fui tomada por um sentimento de pânico. “O que foi que eu fiz?” “Eu nunca mais vou poder sair de casa.” “E agora?”. A Chloé, àquela época pesando 5kg, me olhou e se espreguiçou pelo chão, como se soubesse que finalmente estava em casa. Me ganhou.

Nos meses seguintes, a energia infinita de um filhote me ensinou a admirar TODAS as mães de bebês humanos, e sua paciência, atenção, carinho e cuidado igualmente infinitos. Hoje a Chloé tem sete anos e, conforme previsto, ela cresceu bastante: 17kg (embora brinque como se tivesse dois anos e pula na gente como se pesasse 4kg). Sem pedigree, sem ambição maior que brincar de bolinha e ganhar um petisco, vejo na Chloé a humildade que me falta em muitos momentos. E é nela que reconheço o quão simples é a verdadeira felicidade.