Meu pai e a minha alma colorida
Eu nunca imaginei sentir tanta dor! Logo eu, que sempre fui uma otimista de alma colorida, que sempre acreditei que o mundo é um lugar bom de se viver, que a família deve ser um porto seguro e que isso não aconteceria tão cedo comigo. Mas ele se foi em setembro, bem no meio das flores…
Pais não deveria partir assim, antes da gente envelhecer também.
Papai, assim como eu também tinha alma colorida, olhar brilhante e bom humor. Isso puxei ele. Gosto do riso frouxo, de ajudar, plantar e colher.
Eu era jovem, começava uma carreira recém-saída da faculdade, (ainda bem que deu tempo de ele me ver formar), e nem imaginava que estava tão perto da sua partida. Eu morava e trabalhava em Belo Horizonte. Eu e Luciana. Ele morava com mamãe e as outras duas irmãs em Itaguara. Eu ia quando possível e a gente se divertia. Os Natais eram mágicos! Sempre celebrados, com ritos, rezas, comida e meu aniversário. Ele adorava a busca da árvore na mata pra fazer a árvore de Natal.
No entanto, bem antes daquele Natal, em um dia de setembro a notícia chegou, meio de mansinho, minha tia foi tentando ajeitar e lá pelo meio do caminho, indo a seu encontro é que ela nos contou que teria sido fulminante.
Eu senti uma dor dilacerante quando eu perdi meu pai. É uma daquelas coisas que você pensa que não vai aguentar. Chorei, esperneei, senti dor e meu coração sangrou por anos.
Aos poucos, toda aquela dor, foi dando lugar a risos de lembranças, a sonhos reais que eram verdadeiros encontros, a pensamentos de como ele amaria ter conhecido os netos e aos poucos se transformou em saudade, muitas saudades...
A gente não esquece nunca. Lá se vão 30 anos desde que ele se foi e eu ainda sinto seu cheiro na camisa bege pendurada no meu guarda-roupas, ainda lembro do doce preferido (embora não pudesse comer doce), das canções do Sinatra cantadas com seu inglês próprio, valsando com uma de nós pela sala.
Eu sou assim uma nostálgica de boas lembranças… mas continuo com minha alma colorida!