Mulherzinhas e outras histórias

Dani Villela
Clube da Escrita Afetuosa
5 min readFeb 25, 2022

Eu poderia citar vários livros dos quais abandonei nesses últimos tempos, mas Mulherzinhas, de fato, é o último. Antes de falar sobre ele e as motivações sobre o abandono, preciso abrir um parêntese, que aliás, explicará muito bem o que levou a parar de lê-lo.

Veja, sempre fui apaixonada por literatura. A clássica, então, tem uma gaveta especial. Quando mais nova, costumava devorar os livros. Comprava e lia, comprava mais e lia. Visitava a biblioteca da escola praticamente todos os dias no horário do recreio. Toda semana eu escolhia um dentre as muitas prateleiras da biblioteca da escola e alugava. Minha ficha era tão cheia, que muitas vezes era trocada por uma folha nova ao longo do ano letivo.

Passava a noite inteira lendo, madrugava com os olhos grudados nas páginas dos livros. Foram muitas as vezes em que vi o sol nascer assim. Aquela frase clichê que todo leitor diz a si mesmo, “só mais esse capítulo”, pertencia a mim de forma incansável. Quando dava por mim, havia terminado a leitura do livro em apenas um dia.

Esse costume desapareceu com a idade, mais especificamente quando entrei na faculdade de jornalismo em 2015. Acredito que as responsabilidades do dia a dia, me fizeram afastar desse hábito. Na infância e adolescência, temos tempo de sobra para fazer o que quiser, no meu caso, usava para alimentar o meu eu leitora. Eu sei, é natural perder o ritmo com o tempo, mas ainda assim me frustro.

Hoje em dia sequer consigo finalizar a leitura de um livro. Pode contar nos dedos quantos foram os livros lidos por mim nos últimos três anos. A leitura não flui. O sono chega fácil e eu me rendo a ele, durmo logo na terceira página. Distraio com as notificações do celular e quando vejo já estou fazendo outras coisas. Quando dou por mim, a leitura foi abandonada com sucesso.

Foi exatamente isso que aconteceu com o livro Mulherzinhas.

Por muitos anos, gostava de ir à livraria do shopping da minha cidade olhar aquela imensidão de livros. Observava os lançamentos, mas também escolhia uma sessão para olhar título por título. Um dia, quando estava na sessão inglês, vi uma edição linda de capa dura com letras douradas e uma ilustração florida de um livro intitulado Little Woman, me encantei. Desde aquele dia, todas as vezes que ia à livraria pegava por ele e o desejava ter na minha coleção. Mais tarde, descobri que se tratava do clássico Mulherzinhas. Não comprei o livro físico, nem em português e quem dirá na versão em inglês.

Ano passado, decidi adicionar esse título à minha lista de desejos do Kindle, até que o comprei. Era a oportunidade perfeita para voltar meu hábito de leitura. Comecei a ler no mesmo instante. Obviamente foi amor à primeira vista pela história daquelas quatro irmãs. Jo, Meg, Amy e Beth são encantadoras. A escrita e a história eram exatamente do jeito que eu sempre amei. Sobre o cotidiano e as lições que podemos tirar da simplicidade do dia a dia. Acontecimentos comuns e banais. A vida, a rotina. Tudo sobre o que eu gosto de escrever e ler.

Apesar de tudo isso, de ter gerado identificação com a história, a leitura não fluiu. Fui perdendo o ritmo, uma semana, duas, três semanas se passaram e aqui estou eu, mais de meses depois sem conseguir finalizar a leitura. Perdi o ritmo. Perdi o time. Olho para o meu Kindle, com tantas opções para ler, inclusive Mulherzinhas, e simplesmente não consigo abrir sequer uma página.

Bem, de uma coisa eu sei, uma hora ou outra eu resgato essa leitora que existe dentro de mim. Enquanto esse tempo não chega, deixo uma lista com 3 livros que mais marcaram a minha vida.

  • As Crônicas de Nárnia, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa – C. S. Lewis

Dentre a quantidade gigantesca de livros lidos na minha infância/adolescência, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, foi o que mais marcou essa jornada de leitora assídua.

Esse livro me traz à memória o cheiro das páginas de livros, a paixão pela literatura, as idas à biblioteca da escola e a descoberta de um mundo mágico e cheio de elementos que encantam. A narrativa tão cheia de detalhes me faz questionar como C.S. Lewis consegue criar algo tão incrível assim. Ainda hoje sou apaixonada por esta história, inclusive em toda a coletânea.

  • Tempos de espera – Pe. Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo sempre esteve presente na minha vida com suas homilias e palestras. Suas palavras são tão sábias e a forma como ele fala sobre a vida e o cotidiano me tocam de um jeito muito profundo. Não foi diferente com este livro.

Quando li Tempos de Espera, foram diversos ensinamentos sobre a vida que sempre devemos lidar conosco. Arrisco dizer que levei vários tapas na cara com a profundidade do enredo. A troca de cartas entre os protagonistas, a maturidade de um em contraponto à juventude e pressa do outro, faz com que refletimos sobre a vida. Com essa leitura pude pensar um pouco mais sobre como lidamos com as frustrações, os laços que criamos, a pressa de ter respostas ou solucionar problemas que nem sempre dependem só de nós. O tempo é das esperas, descobrir isso me levou a pegar mais leve com minhas próprias cobranças.

  • O Diário de Anne Frank

Quando li O Diário de Anne Frank la em 2014, senti um misto de sentimentos. Conhecer a história de uma criança que vivenciou a Segunda Guerra Mundial me fez pensar sobre vários pontos da vida. É uma leitura para pensar sobre oportunidades, gratidão ou a falta dela. A coragem, a fortaleza e ao mesmo tempo as fragilidades de Anne me fazem ter como um exemplo de como olhar para as diversidades da vida.

  • Bônus: Anne de Green Gables

Enquanto finalizava a escrita deste texto, me lembrei de Anne Shirley. Como poderia esquecer essa leitura? Conheci essa história através da série Anne With an E, da Netflix. Depois de assistir as três temporadas inteiras e me encantar com o enredo, eu precisava saber mais sobre a intensa Anne. Decidi comprar os livros.

Quando li Anne de Green Gables pela primeira vez em 2020, foi como um regresso, um caminho de volta, tanto da minha paixão à leitura quanto à escrita. Pela primeira vez em muito tempo, li um livro completo sem pausas. Devorei em poucos dias.

Sobre essa leitura, o que ficou gravado na memória foram os dias de leitura no quintal da minha casa, deitada em um colchão no chão, com a perna imobilizada por uma bota ortopédica e os últimos dias que passei morando na casa dos meus pais antes de me mudar para Londres.

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