Não quero ser rocha

Carol Campos
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMay 22, 2021

Ser mãe. Do verbo ser. Mas também de ser no sentido de pessoa. A pessoa, a entidade mãe. Ela não pode ter dor, medo ou tristeza. Ela deve ser forte como uma leoa, estar sempre feliz e alerta. A ela, cabe esconder suas lágrimas no ralo do chuveiro ou deixá-las pra mais tarde, quando as crianças estiverem sonhando com o parquinho. Ela precisa esconder que está desabando porque, afinal, ela é mãe. E ser mãe é seguir pela vida. Imponente. Intacta.

Outro dia, vi uma cena numa série. Uma mãe fingia gargalhar na frente dos filhos, enquanto chorava desesperada por dentro. Essa cena é o reflexo que a sociedade impõe ao ser humano mãe. Fingir que está chorando de rir quando na verdade está totalmente sem chão. Isso é cobrado da gente. É até indicado. “Chore enquanto dirige, mas nunca chegue na escola de olhos inchados”.

Essa cena me dói porque eu já fui essa mãe. De tanto ouvir esse tipo de indicação, escondi várias vezes do meu filho que eu estava triste. Arrasada mesmo. E sabe a única coisa que isso fez? Com que meu filho provavelmente acreditasse que também não deveria demonstrar medo, dor, tristeza. Já tive saudade do meu pai na frente dele e achei que precisava falar que estava com alergia nos olhos. Já tive cólica e fingi que estava apenas com sono, pra dormir a tarde inteira num sábado.

Sabe aquela máxima de que homem não chora? Boys don’t cry my ass! Falar isso é ensinar aos meninos que dor ou saudade ou sofrimento é sinônimo de fraqueza. Sem falar na máxima-pior-ainda que fala que é coisa de mulherzinha. Odeio pejorativos. Dor, saudade e sofrimento são sinais de que temos, dentro do peito, um coração pulsante.

Nunca mais quero que meu filho pense que sou uma rocha. Prefiro que ele saiba que posso chorar e despencar até o fundo do poço. Mas que uma hora eu volto. E eu sempre volto.

Parágrafo:
Mãe. Ela não pode ter dor, medo ou tristeza. Ela deve ser forte como uma leoa, estar sempre feliz e alerta. Esconder suas lágrimas no ralo do banheiro. Ela precisa esconder que está desabando. Ela é mãe. Imponente. Intacta. Mas dor, saudade e sofrimento são sinais de que temos, dentro do peito, um coração pulsante. Nunca mais quero que meu filho pense que sou uma rocha. Prefiro que ele saiba que posso chorar e despencar até o fundo do poço. Mas que uma hora eu volto. E eu sempre volto.

Frase:
Nunca mais quero que meu filho pense que sou uma rocha.

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Carol Campos
Clube da Escrita Afetuosa

Escritora, produtora de conteúdo, com olhar afetuoso e coração pulsante. Escrevo porque assim me equilibro. E porque sem escrever, me falta ar.