Não tenho medo da morte, mas sim medo de morrer

Juliana Tavares
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMay 26, 2021

Texto completo:

Juliana, me ajuda a atravessar a ponte?

Ouvi essa frase numa segunda feira de manhã no trabalho. Magda, professora aposentada, me pediu isso na consulta em que percebemos que seu câncer de pulmão havia progredido. Além desse pedido me fez outro: e não deixe nunca de cuidar da minha filha, referência à Greice que também acompanha comigo por um câncer de mama.

Ontem levei minhas sobrinhas na praia. Elas quiseram brincar no parquinho da areia de Santos. A Olívia, com nove anos e habilidosa, já estava fazendo suas acrobacias e me pedindo para filmar porque queria reproduzir os feitos aos seus pais. Estelinha, prestes a fazer quatro anos, tentava imitar a irmã e eu passei o tempo todo a escorando, atenta para evitar acidentes. Ajudei-a a atravessar umas pontes por alguns momentos.

Qual a diferença entre essas pontes? Me peguei refletindo nessa tarde. Pensando que meu auxílio deve o mesmo: amparo, proteção e atenção.

O que divide o mundo dos vivos e dos mortos? Uma ponte? Um barco? Uma plataforma?

Caronte é o barqueiro de Hades, deus grego dos mortos, que leva as almas recém chegadas ao outro lado do rio. O mundo subterrâneo era rodeado por pântanos passando por águas lamacentas. Quem podia, pagava com moedas a fim de trilhar o “bom caminho” para o céu, por isso a tradição do rito de enterrar mortos com uma moeda sobre a boca.

Quero ser uma barqueira diferente. Com a missão de assegurar que essa travessia para a morte seja em águas calmas, com uma brisa daquelas que acolhem e nos dão a sensação de que a vida tem seu ciclo natural.

*

Poucos parágrafos:

Juliana, me ajuda a atravessar a ponte?

Magda, professora aposentada, me pediu isso na consulta em que percebemos que seu câncer de pulmão havia progredido.

O que divide o mundo dos vivos e dos mortos? Uma ponte? Um barco?

Caronte é o barqueiro de Hades, deus grego dos mortos, que leva as almas recém chegadas ao outro lado do rio. O mundo subterrâneo era rodeado por pântanos passando por águas lamacentas.

Quero ser uma barqueira diferente. Com a missão de assegurar que essa travessia para a morte seja em águas calmas, com uma brisa daquelas que acolhem e nos dão a sensação de que a vida tem seu ciclo natural.

*

Frase:

Quero ser uma barqueira que assegure que a travessia para a morte seja em águas calmas, com uma brisa daquelas que acolhem e nos dão a sensação de que a vida tem seu ciclo natural.

Desafio #002: transformando um texto em uma frase.

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