O ano em que disse sim. Literalmente.

Karol Candido
Clube da Escrita Afetuosa
3 min readFeb 25, 2022

Minha vó era apaixonada por ler e sabia da enorme importância que isso tem na vida de alguém. Sua sala exibia uma estante gigantesca, cheia de livros, que aos meus olhos era fascinante.

Dona Rosa era uma mulher, professora, bem a frente do seu tempo, que partiu levando muito de mim, mas também deixou comigo uma das coisas mais valiosas que hoje possuo: o imenso amor por mergulhar dentro de um livro.

Minha bagagem como leitora não é das mais cultas, confesso. Gosto muito dos romances água com açúcar, então, sem querer, querendo, vou enveredando para esse lado quase sempre.

Ler me tira do meu mundo. Lugar de onde, as vezes, preciso fugir. Adoro pegar meu avião e pousar nos romances modernos clichês. Não tenho nenhum preconceito, ao contrário, tenho prazer. Eles me fazem suspirar.

Me fazem fechar os olhos e viver amores que não vivi, conhecer lugares que não conheci, sentir o gosto de comidas que não provei. No meu último livro lido, por exemplo, fui parar na Cornoalha, sentindo o gostinho de um bolinho doce, típico da Inglaterra, chamado Scone. Bolinho esse que nunca nem vi na vida. Essas histórias fazem me sentir livre, poderosa e leve.

Mas, por incrível que pareça, o livro que mais me marcou não é um romance. É auto-ajuda. Pois é. A-U-T-O A-J-U-D-A. Eis que, no meio da quarentena, limpando uma gaveta, achei o livro “O Ano Em Que Disse Sim”, da (incrível) Shonda Rimes.

Lembrava que uma amiga havia me falado muito bem dele e, até por isso, comprei. Mas, na correria da vida, esqueci largado ali na gaveta. Quase que como fiz comigo mesma. Ao encontrá-lo novamente, a vontade de ler, não sei porque, veio. E, então, esse livro mudou a minha vida. Sem nenhum exagero.

Ele me tirou do lugar. Me colocou de volta no caminho para me encontrar. Para encarar de frente a mescla da versão antiga, que foi atropelada pelos acontecimentos da vida, com a nova que chegou depois de tantas experiências potentes. Com os defeitos todos e as qualidades também.

Shonda parecia falar comigo. Falar para mim. Exatamente o que eu precisava ouvir. As coisas boas e as nem tanto. Suas palavras me levaram para a terapia. Me fizeram entender que, mesmo no lugar de feminista contra padrões impostos, podia sim querer voltar a amar me olhar no espelho.

Elas me ensinaram a questionar comportamentos abusivos e ansiosos que me destruíam. E ainda me destróem. Me trouxeram posturas revolucionárias para a vida. E, vejam só, eu não dei nada para este livro por anos. A ponto de lê-lo já marcado pelas manchas do tempo e do esquecimento.

“O Ano Em Que Disse Sim” é tão potente que as vezes tenho medo de esquecer seu conteúdo. Medo real. Ele me transformou tanto que tenho vontade de lê-lo toda hora, para nunca me esquecer do que essas páginas me acrescentaram. Que me recusei a deixá-lo na estante de livros que, copiando Dona Rosa, agora também tenho na minha sala. Preferi deixá-lo na minha mesinha de cabeceira, dormindo ao meu lado.

Por fim: que revolução, Shonda Rimes. Se te encontrasse, com certeza, diria um enorme obrigada por também me fazer dizer sim para mim.

Desafio 02/fevereiro

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Karol Candido
Clube da Escrita Afetuosa

Libriana, jornalista, mãe de dois guris, apaixonada por uma boa história, pesquisadora de tudo um pouco e astronauta.