O dia em que ela descobriu que escritoras não nascem prontas.

Patricia Moura
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readFeb 19, 2022

Sua apreciação pela Literatura e pela Arte da Escrita era bem maior do que suas práticas nestes territórios. Não se recordava de incentivos na infância ou adolescência que justificasse qualquer investida nesse tipo de expressão. Mas reconhecia esta, como um admirável talento que, talvez, nunca lhe pertencera.

Certa vez, o mundo entrou numa era de nebulosidades pandêmicas. Foram muitos os impactos externalizados — social, econômico e cultural. Muitos também foram os convites para refletir sobre temas antes invisibilizados e silenciados e que, agora, boiavam pelas superfícies.

Até este momento, ela praticava seu ofício com afinco há uns bons longos anos. Conversava com pessoas que compartilhavam suas histórias sobre como a ansiedade ou a depressão costumavam atrapalhar suas vidas e seus relacionamentos. Fazia isso com profundo interesse e curiosidade genuína. Ela ainda não havia percebido, porém, que poderia compartilhar as suas próprias histórias sobre como ela via o mundo em seu entorno e, também, sobre como se via habitando este mundo que reconhecia como seu.

Foi em meio a tanta nebulosidade, que se deu conta, pela primeira vez, de que seu pequeno consultório não se bastava mais no espaço físico que ocupava. Precisava derrubar paredes para manter-se permanentemente conectada com todo o dinamismo da realidade externa. Apontar os olhos para além daquele pequeno mundo de território restrito fez todo sentido ao imaginar que a Literatura poderia ser sua grande aliada na desconstrução de realidades limitantes. Acreditava que, assim, estaria ainda mais curiosa e mais interessada pelas histórias de vida daquelas pessoas que buscavam algum tipo de acolhimento quando lhe procuravam.

Desafio? Sim! Foram muitos os desafios para aqueles momentos difíceis. Mas foi, também, neste mesmo momento difícil que se sentiu timidamente convidada a frequentar os territórios criativos da escrita e conectar-se com o projeto de escritora que poderia habitá-la. Dar este passo parecia ser maior do que suas pernas poderiam alcançar. Afinal…

Escrever é um ato revolucionário capaz de dissipar nebulosidades e ruir paredes limitantes; é avistar novos horizontes para si e anunciá-los no seu entorno.

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Patricia Moura
Clube da Escrita Afetuosa

Psicóloga e Bordadeira. Eu gostaria que a minha presença pudesse fazer a diferença na sua vida e, de alguma forma, isso faz toda a diferença para mim.