O guarda quer falar com você…
Fim de tarde de sábado, toca o celular. Atendo. Ouço a voz de meu filho num tom choroso:
- “Mãe, eu tô no parque… tava usando drogas. O guarda quer falar com você…”
Cinco segundos de pânico, mal respondo, o policial começa a falar:
- “Senhora, estou com seu filho no parque. Ele estava usando drogas…”.
Sem pensar, questiono:
- “O senhor vai levá-lo pra delegacia? O que tenho que fazer…
Mais 5 segundos de pânico. A minha cabeça girando… drogas…parque…delegacia… O que se seguiu foi um sermão do policial, que dessa vez ia deixar passar, que estivesse atenta, etc., etc., etc. O chão se abriu nos meus pés. Acatei o que disse e pedi, por favor, para falar com meu filho. Momento tenso e a vontade de torcer o pescoço dele:
- “O que você tava fazendo? “
- “Mãe, te falei, tava usando drogas, tô aqui com o guarda…”
- “Que parque você está? Vou te buscar! — a voz cheia de ódio.
-“ Não, mãe…o guarda me liberou, tô indo pra casa…”
-“Vou te buscar!
-“Não, mãe, não precisa.”
- “Vem, mas vem logo, direto pra casa. Aqui a gente conversa…” — a frase que faz qualquer filho tremer.
No sofá, meio atônita, meio enfurecida, um filme passou pela minha cabeça. A frase inicial da conversa ”Seu filho estava usado drogas…” ressoava fundo. O policial o fez confessar como forma de punição, um meio de intimidá-lo, ao invés de falar direto comigo. Certo ou não, não sei. Ainda menor de idade, ele sofreu uma advertência verbal, além da humilhação.
Ao chegar, um longo e duro interrogatório, aquele que o policial não fez. Com quem, onde, como, e a mais dura das perguntas para uma mãe : “ Você está fumando maconha? Fala a verdade…”. Uma história foi contada, cheia de detalhes, que era o amigo do amigo, que estava junto na turma, no meio do parque, não tinha fumado etc., etc., etc. Eu, firme, uma bronca num discurso longo daqueles que só servem para desabafo de quem fala. Ele, no choro, com um olhar baixo, intensificado pelo castigo — não jogar videogame. Não era a primeira vez, sabia como funcionava. Passaram-se alguns anos, eu, alerta aos pequenos detalhes do dia a dia. Não houve episódio parecido. Se ele me contou a verdade, não sei, nunca mais tocamos no assunto.
002jul