O Lema é Sobre-Viver

Patricia Moura
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readApr 28, 2022

Submeter-se à sobrevivência. Talvez seja este o único propósito humano que guie uma pessoa em tempos muitos difíceis e ameaçadores da própria vida. No momento em que falham conosco em nos proteger e também à nossa família, temos a instalação do caos. Aqueles que deveriam representar os interesses reais da população, de repente, não o fazem. Ou, talvez, nunca o fizeram.

Portanto… o lema é sobre-viver.

Em situações extremas, tal qual uma guerra entre nações, o risco de conhecer a morte de perto torna-se iminente. Sou convidada, nesse momento, a lembrar do lugar das crianças em territórios tão inóspitos como podem ser aqueles que habitam conflitos armados. Talvez por ter duas filhas. Uma das habilidades mais importantes que precisamos desenvolver na função da maternagem é proteger a integralidade da vida destes serezinhos que acabam por confiar em nós, mesmo antes de nos conhecer. Ou talvez, ainda, porque entenda que as nossas memórias estão guardadas com elas. As memórias de um povo, de uma nação. Os valores e o legado cultural que são capazes de contar quem somos nós. São elas, as crianças, as verdadeiras herdeiras-guardiãs das nossas histórias. Precisamos delas. Das histórias e das crianças. Como a única garantia de nos perpetuarmos quando tudo puder ser contado depois. Aqueles que chegarem do outro lado dessa história inscrita em solos de violência árida serão os que honrarão este compromisso individual e coletivo, ao mesmo tempo.

Portanto… o lema é sobre-viver.

Falo da existência de um idioma que parece primitivo e universal, que comunica estranhos entre si através da linguagem da humanidade. Esta comunicação se mostra muito eficiente quando presenciamos histórias como a de Natalia Ableyeva, uma ucraniana de 48 anos que tentava deixar seu país devido ao conflito armado estabelecido com a Rússia. Estava desolada por ter que partir sem seus dois filhos homens. Eles deveriam permanecer no país, à serviço. Ocorre que Ableyeva encontra-se, na fronteira com a Hungria, com um pai ucraniano. Um desconhecido e desesperado por não poder atravessar esta mesma fronteira com suas filhas. O motivo? O mesmo que impediu seus filhos de estarem com ela por lá. Homens de 18 a 60 anos estavam proibidos de deixar o país para que lutassem na guerra que se declarava. Ableyeva, de posse dos passaportes das duas meninas, filhas do estranho ucraniano, atravessou a fronteira a proteger-se e a proteger aquelas crianças até que encontrassem sua mãe, do outro lado da história-fronteira. Ela vinha da Itália para encontrá-las. Poderia, então, protegê-las pessoalmente.

Portanto… o lema é sobre-viver.

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Patricia Moura
Clube da Escrita Afetuosa

Psicóloga e Bordadeira. Eu gostaria que a minha presença pudesse fazer a diferença na sua vida e, de alguma forma, isso faz toda a diferença para mim.