Crônica
O texto perfeito e o texto possível: nostalgia, esperança e culpa
Há trinta dias você estava muito ocupada para escrever. Há duas semanas, você merecia um descanso. No domingo passado, era hora de cozinhar os legumes esquecidos na geladeira. Tempos de crise: sua mãe diria que é um pecado jogar comida fora!
Ontem: tínhamos um encontro marcado com a escrita e você não apareceu! Coisas pra resolver, o vinho do jantar deixou você sonolenta e além disso tinha jogo do Palmeiras! Perdemos todos, incluindo o Verdão.
Hoje preparei uma emboscada: bloqueei sua agenda, seduzi você com um belo café da manhã e consegui providencialmente que uma chuvinha leve caísse lá fora. Agora sente e escreva!
Mas com tanta tarefa atrasada, não seria melhor desistir agora e começar de novo? No ano que vem, ou quando as coisas se acalmassem, ou quando os negócios melhorassem ou quando…?
Quando? Agora! Sente e escreva! Pela falta do texto perfeito, não deixe de fazer o texto possível. A vida não é aquele concurso de redação que você ganhou no quinto ano. Não escreva para ser aceita, mas para se aceitar.
Algumas vezes, você fará grandes textos; outras, serão textos bem medianos. Em alguns momentos, a inspiração fará seus dedos correrem leves e rápidos pelo teclado. Outras vezes, será um exercício tão extenuante quanto desossar um frango.
E tudo isso vai ajudar você a promover uma reconciliação entre nostalgias e esperanças: os textos que você já escreveu um dia e aqueles que você poderia ter escrito. Esperança é sempre melhor que culpa! Agora sente e escreva!
Desafio #03fev22
