Olinda
Olinda era seca de tudo.
Na Caatinga, a aridez.
No Cactos, o espinho.
Nunca nascente doce.
Nunca o abrir de rios.
Tudo nela era
Reto.
Rude.
.
Seu corpo
negava-se às curvas.
Quaisquer.
Não foi mãe.
O Temer
o redondo da barriga.
O Pavor que lhe
Desequilibrasse sua
parca
Sanidade.
.
Dos outros, mal sabia.
Desinteressava-se.
Ocupava-se de si somente.
O corroer do velho
Abandono
Re pe ti do
em nova cena.
.
A casa que lhe
Guardava as
Retidões
era desértica.
Inóspita.
O macio do conforto
não lhe existia.
O cimento lhe queimava
o chão e
o coração.
.
Ela culpa a brecha
na janela.
O intervalo
no concreto
deixou entrar
a luz
e também
O Gato.
.
Peludo insolente disse a velha vou dar água hoje mas não vá se acostumando pois não sou de dar nada nem suor sai de mim para a terra não vou lhe alimentar nem lhe dar moradas.
.
Ele, já corda,
entre as pernas da velha.
Miou como se pedisse
companhia
para um café ou
para a próxima dança.
.
Tirou-lhe
do assento onde
enredara-se Olinda.
Desacostumada a galanteios,
os olhos já fechados,
a Velha sentiu o eriçar de pelos
do Felino.
Apaixonaram-se.
Ele lhe lambeu os dedos.
Primeiro beijo.
#Desafio01abr2022