Onde encontrar mágica

Michele Caroline Benages
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readAug 13, 2021

Metalinguagem: linguagem (natural ou formalizada) que serve para descrever ou falar sobre uma outra linguagem […]

Às vezes me pergunto o que pode ser mais fascinante que o ato da leitura. Para mim, não existe nada tão contraditório, equilibrando simplicidade e complexidade.

Abro um livro, identifico em que parágrafo parei e recomeço. Visto de fora, é realizado como uma segunda natureza, como respirar.

Visto de dentro, eu não sei nem explicar. A ciência tenta, mas eu ainda me pergunto como produzimos essa mágica, como nossos cérebros conseguem decifrar o significado por trás de um conjunto de palavras e traduzi-las em imagens? Dar voz aos personagens, cor ao céu e textura à areia.

Mágica.

Ler um bom livro em uma poltrona confortável com um chá de hortelã ao lado. Essa imagem simples esconde uma odisseia por trás: o esforço do autor em combinar as palavras, criar frases coerentes, lapidar a ideia até caber nas páginas. Entregar seu filho único ao revisor, editor e, por fim, se desfazer dele, libertando-o aos olhos do público. Esperar ser lido e, com alguma sorte, apreciado.

John Green diz que, a partir do momento que um livro é publicado, ele não pertence mais ao autor, e sim ao leitor. Essa conexão intangível é admirada por ele, tanto que Green busca materializa-la autografando a primeira edição de seus livros.

Se eu tivesse um gênio que me concedesse um desejo, eu cairia na cilada de tentar multiplicar essa mágica. Não pediria mais desejos, escolheria algo mais simples: desejaria que cada pessoa no mundo encontrasse um livro pra si. Pelo menos um. Como na Cemitério de Livros Esquecidos de Záfon, em meu mundo imaginário, cada um teria um livro pra cuidar. Acompanhar. Ter a alma nutrida e aquecida. Ter assunto pra conversar com outros leitores. Ter um lar pra retornar em dias difíceis. Um guia que te pega na mão e te ensina.

Tudo isso encontro nos livros.

Repito que não existe nada tão simples e complexo quanto ler.

Página autografada da minha edição de The Anthropocene Reviewed (John Green)

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Michele Caroline Benages
Clube da Escrita Afetuosa

Vivo dentro dos livros. Quando saio deles, gosto de fazer lettering, escrever e atualizar o Bullet Journal.