Os livros que eu vivi
Desde de pequena, mergulho em livros. Não sou de abandonar no começo. Nem no meio. Mas se for preciso eu faço. Um mau hábito? Ler no mínimo três ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo não. Juntos. Cada hora um, até acabar um, outro e o terceiro. Escolher o livro que mais gostei na vida?! Não tem. Apenas um? Não tem não…
Ao longo da minha vida literária fui ‘vivendo’ os livros que li. Na infância tiveram vários que me marcaram por suas cores, histórias, cheiros. Como o livro O Meu Pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos que conta as aventuras e desventuras do menino Zezé. Um livro que fala de família, de preconceitos, de perda, de sofrimento e sobretudo de imaginação. Foi encantador vê-lo depois de lido, na televisão em forma de novela. Cheguei a ter um pé de limão pra conversar e chamar de meu.
Na adolescência, juventude outros tantos…O Morro dos Ventos Uivantes de Ellis Bell ou Emily Bronte que teve que se esconder atrás de um pseudônimo masculino. Esse romance, que foi considerado um dos clássicos da literatura universal, foi publicado em 1847 e conta a história (meio sombria) de um grande amor. Amaldiçoado, com vinganças a trama vai se desenrolando e prendendo a atenção com sofreguidão. O romance foi intensamente criticado por muitos na sua época. Já na minha época…fascinante! Intenso, longo, cheio de mistérios e descobertas. Dez anos depois de lido, li de novo. Outras vivências, outro olhar.
E dos mais, mais, ainda ali pela juventude: Sagarana. Eu sou Roseana de carteirinha dourada. Sagarana foi livro de estreia, lá pelos idos de 1946. Mas o fascínio aumentou, a cada página, quando o cenário foi descrito com detalhes esmiuçando o sertão mineiro. Os personagens foram sendo revelados, ficaram conhecidos, tinham nome e sobrenome e invadiram minha casa. A cada página um misto de popular e erudito, de mágico e fantasioso e sobretudo das raízes de uma sociedade brasileira. Amo. Amo o jeito único de escrever Dele.
E por aí vai…
Os três últimos livros ‘vivenciados’ foram bem interessantes…
A Natureza da Mordida da Carla Madeira, Rita Lee uma Autobiografia e Clarice, de Benjamin Moset. Coincidência ( ou não, mas acredito que o universo conspira a favor) estou em um momento da minha carreira muito envolvida com projetos femininos. Empreendedorismo Feminino. Escritos Femininos. Vivencia Feminista.
A Natureza da Mordida da Carla Madeira conta a linda história de encontros, ou desencontros. Olívia e Biá fazem a gente pensar, refletir, quando tecem o rosário das suas histórias tendo como cenário uma livraria e grandes encontros. A história também é sobre amizade e tudo o que a gente faz ou deixa de fazer resultando em consequências.
Eu gosto muito de biografias. Nelas as pessoas contam o melhor da sua história. Mesmo que às vezes, ali no recheio, tenha algo de ruim, ou de podre. Cada pessoa tem a sua história. Torta ou reta, linda ou obscura, colorida ou desbotada, mas o importante é ser bem contada e virar uma história com todas as nuances que a vida lhe proporcionou. A história dessa grande cantora não poderia ser diferente. Muito bastidor, inclusive de um período da ditadura no Brasil. Grande aventura de viver.
Já Clarice, de Benjamin Moset conta a história da vida dessa grande escritora, que se fez brasileira, e fazia questão disso. Ele desenrola a história da misteriosa Clarice Lispector, escritora, mãe, mulher em um tempo que era ainda muito difícil ser mulher e escrever e viver de escrita. Foi fascinante conhecer um pouco mais da contraditória Clarice que flutuava entre o recato e a ousadia.
E assim vou continuando na caminhada e reflexão de tudo o que eu leio. Leio aqui, leio acolá. Cada vez mais com outro olhar, o de escritora.