Prova

Alice Murrayr
Clube da Escrita Afetuosa
4 min readJun 24, 2022

— Não vou conseguir. Não sei fazer direito. Vou reprovar. — Pare com isso minha filha, vai dar certo.

— Não vai, eu sou muito ruim no volante, não vou conseguir.

— Calma, respire fundo, você precisa encontrar a sua confiança, assim não vai conseguir mesmo. Vamos lá , pratique mais um pouco.

Marta chega ao local da prova. Sente-se cansada, não dormiu a noite toda, um nó no estômago. Não conseguiu achar a tal confiança. Sente-se insegura.

Respira…

A instrutora anda em sua direção, está com a cara amarrada.

Ela tá de mau humor, Marta pensa. As mãos estão suando. O buraco no estômago persiste, sente-se enjoada e sem ar.

– Seu nome? pergunta a instrutora em tom seco?

Marta responde com a voz falhando.

— Vamos lá, fala a instrutora sem olhar para ela.

Respira…

Entra no carro, coloca o cinto, ajeita os espelhos, olha pros lados. Vamos lá.

Pé na embreagem, primeira marcha, vai soltando a embreagem, por enquanto tudo indo bem, mas sente o suor escorrendo pelas costas. A instrutora preenche algo na folha que repousa sobre o seu colo.

Respira…

O carro anda pra frente lentamente, embreagem, segunda, um pouco mais de velocidade. O suor nas costas a faz colar no banco. Está indo bem, uma curva e Marta ousa olhar com o canto do olho para a instrutora que anota tudo de cara fechada, de repente ela esquece em que marcha está, bate o pânico e ela reduz muito rápido, esquece da embreagem. O carro pula, pula mais uma vez e para abruptamente . Marta sente o coração na boca, ou melhor saindo pela boca. Não tem coragem nem de olhar para o lado.

Panico.

— Vamos logo, menina, liga o carro ela escuta uma voz irritada falando ao seu lado. Tenta ligar mas não consegue.

— Coloca no neutro, e começa do zero, a mulher fala quase gritando.

Respira…

Marta consegue colocar o carro em movimento mais uma vez, as costas, as pernas o braços banhados em suor. Ela segue a prova, mas está sem foco, não encontra confiança. Esquece o pisca, não faz a baliza.

Encerra a prova.

Reprovada.

— Eu sabia , diz a si mesma. Eu sou muito ruim ao volante.

No dia seguinte as amigas perguntam, — e ai Marta como foi a prova? — Reprovei ela fala envergonhada.

— que chato, eu sei como é, diz uma amiga, eu também reprovei a primeira vez.

— É mesmo? Marta diz surpresa.

— nossa eu reprovei duas vezes, diz outra — Na primeira vez peguei uma instrutora super chata, só de olhar para ela já gelei e fiz tudo errado. — Eu também, disse Marta agora com um leve sorriso. Elas vão conversando e Marta percebe, que não é a única que não conseguiu passar na prova, que nem por isso ela é um fracasso total.

Marta chega em casa e marca uma nova prova. Pega o carro com a mãe e elas praticam mais algumas vezes. Subida, baliza. Acelera. — Ok vai dar certo Marta, diz a mãe. — Sim, vai dar certo Marta pensa agora. Vou conseguir. Estou pronta.

Marta volta para o local da prova. Vê a instrutora com a mesma cara fechada, mas desta vez ela não a assusta tanto, afinal já sabe como é. Sente um frio na barriga, o nervoso está lá mas hoje ela está em controle dos seus sentimentos.

Respira…

Respira mais uma vez, e fala pra si mesma. Você consegue.

Entra no carro, coloca o cinto, acerta os espelhos, embreagem, primeira, pisca e lá vai ela. Faz o percurso devagarinho mas com confiança. Sabe o que deve fazer.

Termina a prova. Neutro, tira o pé da embreagem, puxa o freio de mão e desliga o carro.

Respira…

Olha pro lado e a instrutora de cara emburrada, termina de anotar na planilha e diz — muito bem, você passou.

Marta respira…

Aliviada. Passei , fala com orgulho e sorri para sei mesma.

Um mês depois.

— Marta, vamos ao sítio este final de semana, tenho um amigo italiano que quero que você conheça, ele é muito bacana e acho que você vai gostar dele. Diz a amiga animada.

— Só posso ir no sábado, sexta eu tenho um compromisso que não posso adiar.

— Tudo bem, não é longe, nós vamos na sexta e você nos encontra lá no sábado. Afinal você tem carro.

Sábado de manhã Marta acorda cedo, não dormiu muito bem, ficou pensando no caminho pro sitio, nunca foi lá antes. E o italiano, Lucas, como será ele? será que ela vai gostar dele? e ele dela?

Respira…

Entra no carro, ainda está escuro, prometeu chegar bem cedo. A cidade está vazia. Quando entra na estrada os primeiros raios do sol estão aparecendo. Uma manhã linda. Marta aumenta a música no carro. Adora o campo e a paisagem ao redor da estrada é linda, e ainda mais linda ao amanhecer. Marta sente o coração leve, sete confiança. Abre a janela e deixa o vento acariciar o seu rosto. Aumenta ainda mais o som e canta junto. Se sente livre e feliz. Feliz por ter aprendido a dirigir, feliz por estar indo conhecer o italiano, feliz por estar vivendo e feliz por estar enfrentando os seus medos e inseguranças.

Marta chega ao sitio.

Estaciona o carro, desliga o motor, e desce.

Os amigos a esperam

— Marta, como foi a viagem?

— Maravilhosa, ela responde com um enorme sorriso.

Desafio #2 Junho/22 Alice Murray Reimer

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Alice Murrayr
Clube da Escrita Afetuosa

Adoro livros, bibliotecas e livrarias e é claro uma boa história.