Que bom estar com ele, todos os dias!

- Bom dia!

- Bom dia! Já passeou com a Marrie?

- Ainda não!

- Já foi?

- Não fui.

Cheguei mais perto para ele me ouvir. Tem que falar de pertinho porque a audição já se desgastou com a idade.

- Ainda não fui.

- Ah, vai ainda. E o personal? Já fez caminhada? Hoje é dia de ir pra ONG?

- Caminhada foi ontem. Pra ONG vou amanhã.

- O quê?

- Amanhã vou pra ONG. Hoje fico em casa.

Ele respira aliviado. Deve dar mais segurança quando a gente fica em casa. Sair nas ruas desta cidade de pedra, repleta de perigos, turbulências, violências é um realmente um grande desafio. Quem tem bom senso não confia!

- Acordou tarde hoje. Estava com preguiça? Está friozinho né?

Ele sai do quarto pontualmente às 9 horas. Todos os dias. Não gosta de acordar cedo. Era quase 9h45 e tinha acabado de ir tomar café.

Ver como ele lida com a rotina, aos altos dos seus 89 anos, me faz acreditar que disciplina pode ser a chave para a longevidade.

- Não, acordei no mesmo horário. É que hoje fiz a barba. Demora pra fazer a barba!

Estava mesmo toda aparada. Rostinho liso. Parecia um bebê. Ele costuma acordar com aparência de criança. Quando olho pra ele de manhã me dá uma vontade irresistível de dar um beijo na testa, apertar as bochechas dele. Fazer aquelas coisas de tia sem noção!

Às vezes não resisto. Vou até lá e grudo um beijo. Na testa. Na bochecha. Até me pergunto sobre a pandemia. Estou trabalhando presencial às vezes, saindo… então tem risco. Até tem! Mas quanto vale um carinho? Na minha opinião, todo risco do mundo.

- Saindo com a Marrie, pai. Daqui a pouco volto.

- Vai sim, está lindo o dia, minha filha. Hoje está sol!

#01mai22