Quem são essas pessoas?

Oriana Freire
Clube da Escrita Afetuosa

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Adoro fotos antigas. Elas nos transportam para uma época que normalmente não vivemos ou não lembramos, e essa é a melhor parte. A gente costuma pensar que aqueles tempos eram melhores que o nosso e sente uma nostalgia quase inesplicável.

Lembro que quando eu era muito jovem, me impressionava com algumas que a minha vó me mostrava, correspondiam a fase do primeiro casamento dela, algo em torno dos anos 30. Entre elas havia uma que a retratava auxiliando o marido em um número de mágica. Ele a colocava em um caixão e depois serrava o mesmo. Eles não eram de circo, mas a mágica era uma atividade paralela e isso me deixava muito curiosa, principalmente porque cedo ela ficou viúva e casou-se novamente. Mas me contava histórias daquele primeiro matrimônio que logo me fazia criar uma ligação com aquelas antigas imagens, e até hoje quando penso nisso, repito essa viagem àquele mundo em preto e branco.

Outro dia resolvi olhar antigas fotos de uma caixa a qual minha mãe guardava como um arquivo de lembranças da família e amigos de um passado longínquo. Sempre gostava de apreciá-las quando vivia minha infância e adolescência. Elas não são apenas um registro de uma época, mas uma passagem para um túnel do tempo em que eu abria uma caixa super colorida onde antes essas fotos eram guardadas. Costumava ficar recordando minha infância e tentando imaginar o mundo que havia por trás daquelas que representavam o desconhecido para mim. Quem eram aquelas pessoas? Perguntava muitas vezes a minha mãe e terminei fazendo isso novamente com uma tia minha há poucos anos, depois que a minha mãe partiu para um outro plano. Fico sempre incomodada quando não sei a história daqueles personagens que um dia ou cruzaram o caminho dos meus familiares ou são parentes distantes.

Às vezes me pego pensando que em um futuro quando não estiver mais aqui, esses registros irão se perder ou não terão mais significado para quem vai ficar. O que considero uma preciosidade e uma máquina fabulosa de transporte para um passado qualquer, em pó provavelmente se transformará e assim como eu, irá voltar para onde viemos. E as milhares de fotos coloridas que um dia mandei imprimir, sem a mesma nostalgia, talvez sirvam para matar a curiosidade dos que são contemporâneos das imagens digitais, como uma peça de museu de um período não tão distante, mas perdido numa velocidade que não conseguimos mensurar, onde as caixas de fotos já não mais existem para guardar histórias, sentimentos, afetos, vidas.

Oriana Freire - Desafio 002-Março/2022

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Oriana Freire
Clube da Escrita Afetuosa

Amante da literatura. Viajante das crônicas. Devoradora dos livros. Autora dos blogs: Viajando na Crônica e Viajando e contando