Relembramentos…
Tive e tenho até hoje o privilégio de conhecer Vilma Guimarães Rosa, que inclusive é Itaguarense como a mamãe, minha Tia Adagmar (Zali), (que também é escritora, diga-se de passagem), e todos os seus irmãos. Meu Tio Fábio é afilhado do Grande João e isso é um orgulho para toda família Morais Lima.
Minhas infância e adolescência foram regadas a encontro literários, Feiras de Cultura, concursos de poema, teatro, dança e poesia. Viver nessa efervescência foi muito especial e me ajudou a trilhar o caminho da escrita.
Vilma conta em um dos seus livros, o Relembramentos, que seu pai João, desde menino “parecia aquele Príncipe de Serendip, na estória de Walpode, que seguia pelas estradas do reino a observar todas as coisas. E as felizes descobertas vinham ao seu encontro, pressurosas. Ele era um homem que cumpria o seu dever procurando fazê-lo acima e além do que normalmente se lhe poderia exigir. Manifestou sempre o mais integral devotamento a tudo o que fazia: uma página escrita, um relatório funcional, o estudo de um problema técnico ou um desenho para os netos.” E ali ela vai descrevendo horas a fio, página por página o seu pai João. Do jeito que era. Perfeitamente imperfeito e divinamente encantador!
Eu gosto muito das histórias escutadas…e das lidas também. Especificamente nessa beleza de livro tem uma página em especial que me encanta! Trata-se de uma página reproduzida do original datilografada e despois rabiscada com a letra de Guimarães Rosa onde ele fazia reparos, ‘remimento’, feitos com seu traço forte, sua letra bordada que nem parecia ser de médico e sim de escritor. “Lá, às vezes, aos poucos as pessoas se entreviam meio modo em ínterim tanto o espaço é agente; justassem-se ao grau, de aquém nem além, da vasta, horizontal arquitetura, onde a essencial vige por si, como se o mundo não tivesse origem e todavia nelas acaso acentuarão o humano, vejo reduzida sua superfície de disfarces simultâneos sucessivos: sobre renovos inatos motivos, atos em possível germe.”
E assim, João Rosaneava com a escrita, com as letras, com as palavras em tudo o que fazia como diz sua filha Vilma. Nas receitas, nos relatórios diplomatas até chegar no seu Tutaméia.
Eu não tive a felicidade de conhecê-lo pessoalmente, mesmo porque ela morreu um ano antes de eu nascer, mas sigo escutando as histórias, lendo e relendo seus livros. Adoro a escrita rebuscada só sua!
Eu de cá continuo e continuarei a ‘Rosanear o que há de bom!’