Foto: Tim Mossholder

Salvo pela Madrinha

Oriana Freire
Clube da Escrita Afetuosa

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Madiiiiiiinha! Esse era o grito de socorro de Toninho quando se via em apuros, após ser pego pela mãe fazendo alguma traquinagem.

E porque as crianças têm seu anjo da guarda, a sua madrinha era o seu anjo protetor. Se por um lado teve o desencontro de ter uma mãe rigorosa, por outro, a sorte lhe deu uma doce madrinha que estando numa pacata cidade do interior e vivendo na casa vizinha a sua, a salvação literalmente morava ao lado.

E foi assim que escapou de levar uma sova da mãe depois de destruir um luxuoso conjunto de louças que havia em casa. Não foi porque quis, mas o que contava era o resultado. Aconteceu em um dia de almoço comemorativo em sua casa quando a mãe havia colocado em uso sua melhor porcelana. Ocorreu que à tarde, depois de tudo devidamente lavado, Toninho entrou em casa com sua bicicleta retornando de um passeio. Sem perceber, ao passar ao lado da mesa de jantar, que estava forrada com uma toalha de bordados vazados, um parafuso enganchou em um dos buraquinhos da toalha arrastando-a e junto com ela as louças que repousavam sobre a mesa, prontas para serem guardadas na cristaleira. Com a zoada, a mãe correu a tempo de flagrar a cena do desastre. A fúria foi tão grande que imediatamente pegou sua sandália e foi em direção ao filho para puni-lo pelo descuido, mas antes que o alcançasse, ele soltou seu grito de salvação: “Madiiiiiiinha”. Assim como em outras situações de surras iminentes, a salvadora correu em defesa de seu protegido e o livrou, se utilizando da velha justificativa de que não havia sido por querer.

E era assim que Toninho se safava depois de suas artes propositais ou não. Mas um dia a sorte foi passear, na ocasião ele garantiu à mãe que sabia emendar o fio de um acendedor elétrico. Juntou todos os filamentos sem separar as fases e vedou. Em seguida, entregou a ela após mentir afirmando que havia testado o conserto e estava funcionando perfeitamente. Quando a mãe foi usar o acendedor acionando-o junto ao fogão, a tomada pipocou e queimou provocando um grande susto, e na sequência uma ira que a fez olhar para o filho e jurar: “dessa vez você não me escapa porque sua Madrinha não está aí para lhe salvar”. Correr não era uma opção e a sova foi a rainha.

Depois desse dia, Toninho todas as vezes que pensava em aprontar, primeiro se certificava de que a Madrinha estava em casa. É claro que uma vez ou outra ele se descuidava, afinal era criança. Mas o fato é que depois que cresceu, desejou ter uma madrinha para salvá-lo de outros tropeços, foi quando aprendeu que agora era com ele, que seu anjo da guarda já havia feito a sua parte, e era hora de dar-lhe o merecido descanso.

Oriana Freire — Desafio 004-Jun/2022

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Oriana Freire
Clube da Escrita Afetuosa

Amante da literatura. Viajante das crônicas. Devoradora dos livros. Autora dos blogs: Viajando na Crônica e Viajando e contando