Um pouco de glitter, canetas e High School Musical

Michele Caroline Benages
Clube da Escrita Afetuosa
3 min readJul 27, 2021

Dias atrás eu precisei renovar meu estoque de Post its de plástico para fazer marcações nos livros (aficionados por papelaria sabem que o termo correto é “flag”, mas vou manter aqui a linguagem simples de quem não passou 20 minutos na loja tentando escolher a melhor combinação de cores e tamanhos). Plena quarta-feira a tarde, a loja estava praticamente vazia.

Olhei para a prateleira ao lado, apenas inspecionando a variedade de cadernos, afinal, eu já tenho mais do que o suficiente. Cheguei mais para o lado e vi os estojos. Foi aí que todo o auto controle que venho construindo com afinco me deixou na mão: vi estojos com glitter. E não estavam na parte infantil! Isso significa que é aceitável para adultos terem estojos com um pouco de glitter, certo? Era bem discreto. Bom, foi essa a história que eu contei a mim mesma.

Passei mais alguns minutos escolhendo entre azul, branco e rosa. Pena que não tinha minha cor preferida, o verde. Minha mãe já estava me rodeando, provavelmente se perguntando quando as excursões aos corredores de papelaria deixariam de ser minha parte preferida de qualquer visita ao shopping. Escolhi o azul e fomos embora.

Como uma compradora compulsiva em recuperação, tento viver sob a filosofia de não comprar o que não preciso e avaliar minha necessidade na hora da compra, não após chegar em casa, arrependida. Tenho orgulho do meu progresso. Ao distribuir minhas compras na escrivaninha, encontrei o uso perfeito para o estojo azul novo: guardar os post its que eu havia acabado de comprar! Perfeito. Toma essa, minimalismo.

A alegria de adquirir um item novo fez com que eu relembrasse o estojo que usava na faculdade (agora guardado na gaveta abrigando alguns lápis de cor). Lembro que ao escolhê-lo, alguns dias antes do início da aula, meu objetivo era claro: escolher um estojo com traços roxos (o motivo daria outra história), grande o suficiente pra levar tudo que eu poderia precisar (como se estivesse indo para o primeiro dia do Ensino Fundamental, não do Superior) mas não tão volumoso assim, afinal mochila de universitário abriga de tudo: blusa de frio, uniforme do trabalho, marmita, cadernos, carregador e assim vai…

No final do Ensino Fundamental e durante o Ensino Médio, tive variações do mesmo estojo roxo e sóbrio, afinal, eu estava na fase de odiar aquilo que eu adorava antes: nada de desenhos, brilho, bordados e — Deus me livre — nada de rosa. Além disso, o estojo tinha que comportar as preciosas canetas Stabilo, uma novidade pra mim na época.

Mas o auge mesmo foi meu estojo da 5ª série, com o tema High School Musical. Eu havia passado os meses anteriores assistindo ao filme sempre que passava na TV até que ganhei o DVD (já sendo cringe: que saudades de DVD!). Devo muito do que sei de inglês às minhas tentativas de cantar as músicas do filme do jeito menos errado possível. Nem preciso falar que minha confiança estava no ápice ao começar a 5ª série com esse estojo dentro da mochila.

Acho fascinante como alguns objetos simples se tornam importantes conforme depositamos neles nossas memórias e projetamos nossas expectativas. Se eu tivesse que escolher um objeto assim, símbolo que me representasse em diferentes fases da vida, escolheria o estojo.

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Michele Caroline Benages
Clube da Escrita Afetuosa

Vivo dentro dos livros. Quando saio deles, gosto de fazer lettering, escrever e atualizar o Bullet Journal.