Um pouco sobre mim

Adriana fernandes
Clube da Escrita Afetuosa
5 min readMar 18, 2022

Minha vida como de todo ser humano é cheia de altos e baixos, ou seja, de momentos bons e alguns não tão agradáveis ​​assim.

Durante todo esse tempo que tenho vivido na minha cidade natal que é Belo Horizonte, continuo aprendendo sobre viver, se relacionar e aproveitar muito o agora.

Olhando para minha trajetória percebo que tudo o que me aconteceu serviu para moldar a mulher que sou até o momento.

Entrei para a escola aos sete anos de idade. Lembro-me bem que não sabia ler nem escrever, mas que acabei “montando” um esquema para que eu não demorasse muito a aprender.

Comecei a ler tudo o que via pela frente incluindo os textos nas caixas de sabão em pó, outdoor e até mesmo catálogos de telefone, e não é que acabou funcionando?

Esse esquema que “criei” para aprender a ler e escrever me fez apaixonar pela leitura e pelo estudo em si. Amava ir às aulas e minha matéria preferida era sem dúvida as de português e redação. Gostava de criar histórias e lê-las a frente da classe.

A paixão pelos estudos me trouxe também responsabilidades, pois já que eu era a mais velha de uma família de quatro irmãos. Duas meninas e dois meninos. Ficada na incumbência de ajudar meus irmãos quando precisassem.

A escrita, se tornou algo muito importante para mim, principalmente, na minha adolescência,quando perdi de forma repentina a minha mãe no dia primeiro de janeiro de 1989.

Como de costume, passávamos a virada do ano na casa da minha avó materna. Não me recordo da virada do ano, mas o primeiro dia do ano de 1989 ficou marcado na minha memória.

Minha família estava vivendo uma fase muito boa nessa época.Estávamos com muitas perspetivas para o ano que estava apenas iniciando. Tinha acabado de completar quinze anos e já iria para o colégio e meus pais estavam muito felizes por essa minha nova fase.

Passamos uma manhã e tarde daquele primeiro dia do ano tranquilos. Conversamos sobre vários assuntos e sobre os planos para o novo ano. Porém, aproximadamente as 19:30 minutos de um domingo minha mãe disse que iria se deitar um pouco para descansar.

Eu estava na sala, lembro-me bem que estava passando na TV os trapalhões, um programa humorístico de entretenimento muito famoso na época. Assim que minha mãe passou em direção ao quarto, não demorou mais do que cinco minutos me lembrei de que tinha que pegar algo no quarto em que ela estava.

Quando cheguei à porta do quarto, percebi que não dava para ver o rosto dela, pois sua cabeça estava fora do travesseiro. Senti algo naquele momento, é como se minhas pernas tivessem paralisado e ficado muito pesadas.

Fui andando de maneira lenta em direção a cama em que ela estava para ver o seu rosto, e naquele momento percebi que minha mãe estava estranha.

Meu coração estava acelerado, mas mesmo assim lembro-me que caminhei calmamente em direção a um corredor que dava para a sala de TV onde minha tia estava e disse: Tia vai la no quarto. Minha mãe está muito estranha.

A sensação naquele momento era de que eu estava em câmera lenta. A partir dali, tudo ficou muito confuso. Meus tios se desesperaram, meus avós também e eu não entendia muito bem a proporção de tudo aquilo.

Minha mãe foi levada para o hospital, mas já chegou sem vida. Acredito que o momento em que a vi já estava partindo.

Eu nunca tinha visto uma pessoa morrer. A experiência de vê minha mãe ali sem vida com apenas trinta e oito anos de idade, me traria consequências que somente mais tarde eu iria compreender.

Desenvolvi um medo enorme de perdas, o que me fez adiar muitas coisas na minha vida. Eu pensava: Para quê vou adquirir tal coisa se no final eu vou acabar perdendo?

Era um sentimento horrível e eu não queria vivenciar isso novamente. Passei a ter ansiedade e a me sentir insegura em várias áreas da minha vida. Tudo parecia ter perdido o sentido.

O meu processo de luto foi um período muito longo. A sensação que tinha era que jamais iria passar. Era como se eu tivesse uma pata de elefante esmagando meu peito.

Em meio a tanta dor e sem conseguir falar tão intimamente sobre esse momento tão difícil, a escrita foi minha voz, minha companheira, minha melhor amiga e conselheira.

O período de luto foi o tempo em que mais desenvolvi minha escrita. É algo sem explicação. Em meio ao deserto que eu enfrentava a escrita floresceu de maneira tão criativa e poética!

Até que um dia chegou à época de ir para a faculdade de psicologia onde os textos poéticos deu lugar aos textos técnicos. Foi um período diferente porque eu realmente me afastei da minha maneira de escrever.

Sempre gostei de escrever de forma mais poética,mas por algum motivo isso havia se perdido.

A sensação que eu tinha era de que jamais voltaria a escrever como antes e essa sensação não era nada agradável.

Até que chegou um momento em que participei pela primeira vez de um curso de escrita criativa com Gabriele Ribas, e montei minha página Escrever para transformar.

Postei algumas reflexões nessa página, mas de novo essa voz foi abafada e parei de postar. Foi quando conheci o trabalho da Ana e fiz o curso de escrita afetuosa no ano de 2020. Ali novamente comecei a reencontrar minha voz, e com isso surgiram as indagações: O que irei escrever? Qual será meu público? Qual o meu objetivo? Da para juntar as duas paixões psicologia e escrita afetuosa? Como eu faço isso? Por onde começar? Perguntas e mais perguntas.

Confesso que não tem sido uma jornada fácil, pois sinto que ainda estou muito presa a forma técnica de escrever.

É curioso. Quando estou com meus clientes no consultório, sou capaz de ser eu mesma. De brincar, de ser mais leve, mais solta, mas se tratando de redes sociais…

Sinto que quando escrevo ainda não estou de fato dialogando. Preciso encontrar minha voz, minha maneira de escrever que está perdida aqui dentro de mim.

Por esse motivo resolvi participar do clube da escrita, pois além de reencontrar a minha voz desejo que as pessoas se identifique com a minha maneira de escrever.

Hoje, sinto que estou vivendo a minha melhor fase. Sou capaz de respirar macio, meu coração está menos ansioso.

Ao perceber o tempo, o vento que balança a cortina do meu quarto enquanto escrevo no computador. Estou presente. No momento mais importante da minha vida. o agora. É neste agora que quero plantar, colher, desfrutar e compartilhar as bênçãos que Deus me concede a cada manhã.

Escrever um livro, ter um projeto para desenvolver me faz ter borboletas no estômago. Faz a esperança se renovar e eu estou muito feliz por isso.

Aonde essa trajetória irá me levar não tenho a menor ideia, mas o que tenho certeza é que mais importante do que o final da jornada são as experiências que adquirimos no decorrer do caminho.

O que sei é que estou no caminho em busca da minha voz e mais do que nunca estou disposto a percorrê-lo.

--

--