Uma camisa, um encontro

Final de faculdade, fui efetivada numa grande empresa, uma surpresa muito bem-vinda. Tinha planos de me especializar na área e outros interesses que aquela oportunidade poderia me possibilitar. Momento de pura alegria e satisfação por ser reconhecida. Chegou o fim do mês e recebi o primeiro salário. Não me lembro mais o valor, mas era o suficiente para ter planos. Saí do trabalho feliz, rumo à minha casa, ainda morava com meus pais.

No meio do caminho eu passei por um supermercado grande e conhecido na época. Entrei e andei meio à toa, com o pensamento longe, fui dar na seção de roupas. Interessante, pensei. Saí do vazio da minha mente e comecei a olhar as araras, buscando não sei bem o quê. E aí, me encontrei com uma camisa de cor azul clara. Sim, porque foi um encontro, amor à primeira vista. Única peça, me apossei dela e fui vestir. Ela era linda e me vi linda ali também. Não essa beleza de revistas de moda, e sim, aquela de se perceber mulher, adulta e caminhando para ser independente, como de fato aconteceu muito mais tarde. Cheguei em casa com a novidade e compartilhei com a minha mãe, como sempre fazia. Preparei a camisa para usar no dia seguinte. De manhã, bem cedo, saí para trabalhar, e como nas propagandas de TV, caminhei como aquelas mulheres que se sentem plenas, envolvidas em seus pensamentos sem olhar para os lados. A camisa de cor azul clara fez parte da minha vida durante muitos anos: no trabalho, no encontro com o novo namorado, no curso de especialização que havia planejado e nas saídas com as amigas. Não me lembro em que momento ela saiu da minha vida. Sei o que ela representou, o tamanho e a beleza de quem eu queria ser.