Uma coleção de livros

Evelym Landim
2 min readSep 16, 2022

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Andei por toda a casa. Abrir as portas dos armários. Procurei. Pensei. Eu não tenho um objeto afetivo. Talvez minha coleção de livros. Será que uma coleção de livros pode ser considerada um objeto afetivo? Na minha inconstância, vivo os extremos. Hoje gosto, amanhã já não vejo mais graça, ontem fazia sentido, hoje já não faz. Acho que ao longo do tempo já tive vários objetos afetivos, cada um representando uma fase da minha vida inconstante. Álbum com fotos das bandas que eu amava, colares, brincos, maquiagens, um conjunto de panos de cozinha que eu bordei, medalhas e troféus do tempo que correr era meu objeto afetivo. Será que correr pode ser considerado um objeto afetivo? Hoje tenho livros, um conjunto deles. Não consigo escolher apenas um, cada um me afeta de um jeito. Tenho dificuldade de escolher. Quero tudo.

Quando eu era criança minha mãe sempre dizia: “Livros são muito importantes. Vocês deviam ler. Ler vai fazer vocês serem inteligentes.” Mas a gente não tinha livros em casa. Como pode um objeto ser tão, tão importante, e a gente nem ter ele em casa? Tinha a biblioteca da escola, mas eu não me encontrava lá, havia sempre um livro que tinha que ser lido, era obrigação das aulas de português e literatura. Um saco. Minha mãe às vezes aparecia com uns livros de autoajuda que pegava emprestado. Augusto Cury e Roberto Shinyashiki, lembro bem desses nomes, às vezes eu os lia também. Era legal, mas nada de encanto e envolvência. Toda essa história está gravada em mim. Passei anos sem ter livros. Sem ler livros. Não me identificava. Não era parte de mim.

Um dia me peguei inquieta, queria entender alguns conceitos, buscava algumas respostas, e os livros me pareciam ser o melhor caminho. Comecei a comprar livros, a ganhar livros, a ler livros. Livros que eu escolhia. Que eu queria ler. A leitura foi se tornando parte de mim. Minha coleção de livros é hoje o objeto que me rodeia que mais me afeta. Encontrei. Uma coleção de livros pode ser considerada um objeto afetivo.

#04mar22 (Texto escrito para o Club de Escrita Afetuosa da Ana Holanda)

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Evelym Landim

Mulher, sonhadora, curiosa e cheia de vontade de aprender sobre as coisas que atravessam minha vida. Trabalho como culinarista e cozinheira.