Uma lista
O casaco demorou pra se encaixar de novo em meu corpo. Nunca imaginei que fosse usar esse baita troço de neve em Campinas, mas o clima mudou minhas expectativas. Também jamais imaginei que um papelzinho já meio desgastado fosse desembrulhar memórias suspensas em prateleiras que poderiam ser alcançadas só por escadas ou asas.
Ele estava ali dobradinho, guardado há mais de dois anos no bolso do casaco amarelo. Duas folhas pontilhadas e uma lista de presentes a serem comprados antes do meu retorno.
Ao mesmo tempo que o vi, o tempo parou. Saí rapidamente da minha sala e me encontrei perdida entre lojas, corredores, malas. Decidia o que ficava e o que vinha. Três botas e algumas peças de inverno ainda estão por lá… Meu peito comichou quando viu aquela letra… a letra dele em uma palavra tingida de lápis entre tantas escritas à caneta.
Um lapso. Um desassossego. Um comichão no peito. E então a consciência do agora, como se o passado não me pertencesse mais. Mas ele pertence. Ainda mora aqui. Espera… melhor parar, seguir, mudar de assunto, mudar de ação. Soltei o papel na mesa e fui.
Mas os pensamentos me acompanharam até o carro. Até a academia. Até o meu chuveiro. Até a minha cama. E eles me enlouquecem agora mesmo. Me ilusionam, me cativam, me torturam com a curiosidade de saber o que aconteceu com você, com sua vida, com sua família, com sua quarentena. Por onde caminham seus passos, seu coração, sua alma? Ainda pensa em mim como eu penso em você? Ou assim como eu, você decidiu sedar seus sentimentos e nossas lembranças?
O papel continua sob a mesa. Foi ontem que o larguei, e ele permanece ali. Intocado, rejeitado, assim como meu coração.
Talvez teria sido mais prático e alegre ter esquecido em meu bolso notas de Euro ao invés de listas de lembranças.
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