Uma quarentena, um lar

Bruna Couto
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readApr 25, 2022
Foto do acervo pessoal 2022

Março de 2020, uma quarentena trancou todo mundo em casa. Sempre fui uma pessoa com uma carga horária de trabalho exaustiva e ativa socialmente, o gosto era pela rua. Então, o fato de ter a minha liberdade de ir e vir tolhida foi um dos maiores lutos que enfrentei. Me vi confinada na minha própria vida. Me encarei de frente, integralmente, luz e sombra. O fato de dormir, acordar, fazer refeições, trabalhar, descansar, estudar, sem descer para a rua, me fez perceber tantas coisas… Descobrir que o apartamento que moro desde setembro de 2017 era um dormitório e não um lar, foi um grande susto. Eu olhava para as paredes brancas, sem decoração e não me enxergava aqui. Era como se esse apartamento não tivesse alma, logo eu, uma pessoa tão cheia de vida, alma, alegria e intensidade. Algo não estava certo, parecia não se encaixar. Então começou o meu processo de me tornar lar. Nesse percurso tive altos e baixos emocionais, com dias de extrema gratidão e de caos emocional. Muitas sessões extras de terapias para manter a sanidade em meio ao turbilhão que enfrentávamos globalmente, e eu internamente. Eu mergulhei em muitos universos desconhecidos dentro de mim. As paredes ganharam quadros, a sala uma rede colorida, em que passei a contemplar o sol, a lua, o céu e as estrelas. Novos livros, uma estante e cristais. Aprendi aqui a lidar com espaços vazios. Aprendi que é no vazio que a vida acontece. Aqui é meu lar. Passei a amar ficar em casa. Desenvolvi aqui, muito amor-próprio. Aqui encontro inspiração para meus textos e motivação para conquistar meus sonhos. Me tornei ainda mais corajosa e consciente. O lar é meu lugar seguro, cheio de amor e afeto. Eu o levo para onde eu for, pois eu me tornei meu próprio lar. Meu lugar de calma, alma e amor. Me tornei mãe do Pet Apolo, meu grande e mais leal amigo que a adoção me trouxe. Ele me lembra diariamente o poder de ser lar. Da simplicidade e da beleza da vida. Da alquimia das relações. Ser lar é ser nutrida, completa. Olho para trás e consigo perceber o quão vazia era minha vida dormitório. Eu amo tanto minha vida lar. A quarentena trouxe tantas transformações que, para algumas, nem tenho palavras para expressar, eu insisto em arriscar.

Bruna Couto

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Bruna Couto
Clube da Escrita Afetuosa

Psicóloga | Escritora | Apaixonada pela vida, desenvolvimento humano e autoconhecimento! @psico.brunacouto @brucoutooliveira