Voto Primeiro

Andreza Lucena
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMar 26, 2022

Agora, olhando o mar inundar-te no altar do Santo, e sempre. Sempre que o relógio atrasar o afeto em dívida. Sempre que o acordar não nos seja o mais macio e as preocupações sejam as maiores. Sempre que a toalha pousar sobre os lençóis ou tuas roupas sobrarem sujas ao chão. Sempre que, inquietos, não nos bastem as palavras. Sempre que o repetir mudo dos dias cegue-nos à beleza do outro.

Hei de viver-te em todas as desimportâncias, destino de quem ama.

No café sem açúcar da segunda. No correr de dias e já é terça. No cansaço silente da quarta. No beijar repetido da quinta. No antecipar a alegria da sexta. No cochilo do sábado. No amor molhado do domingo. O compromisso de derramar sobre ti meus olhos e afetos.

E, se te cerco de olhares, creia-me puro egoísmo.

Pois, se temo tua ausência súbita no repentino da morte, quero-te clausura em mim. Assombra-me o correr de dias a deteriorar-nos a carne, fim dos vivos. Que o tempo não nos adoeça o bastante, apenas o suficiente. Para vivermos o nascer de filhos e o gotejar de netos.

O amor que respiramos imaterial ocupará pulmões outros.

Assim, rogo, a ação do afeto restará a ocupar todas as respirações. No compartilhar suas alegrias. No dividir suas retinas, seus escutares de vento. Ali estaremos. Além de um no outro.

E será, por fim, o viver eterno do afeto silente.

#Desafio03mar2022

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Andreza Lucena
Clube da Escrita Afetuosa

Escrevo sobre as (des)importâncias e (in)utilidades da vida. Estou no @escrevoemmaiusculo. Aguardo você! =)