Ilustração de Luiza T. Vesey

Coordenadas

Luiza T. Vesey
Clube da Escrita

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Vá por ali. Ali onde ninguém vai.

No canto escuro com cheiro de patchouli e as Espadas de São Jorge meio secas a despontar da terra.

Viu?

Não?

Olha aqui…

Vamos começar de novo.

Você desce na ultima parada do trem. Aquela com a farmácia de letreiro feio ao lado da loja de café aguado e barato.

Isso! Aquela mesmo!

Aproveita e pega uma cerveja e uns amendoins.

Pegou?

Agora segue reto. Quando você sair da loja, conte três buracos pra direita.

Contou?

Quase sempre vai ter um homem (é sempre homem que faz essas coisas!) urinando na esquina. Tampe o nariz e vire trinta graus pra esquerda.

Como assim trinta graus? Como assim trinta graus! Um ângulo agudo, oras!

Os melhores caminhos são diagonais, não sabia?

Pois siga em frente, sempre no raio dos trinta graus.

São quarenta e cinco passos sem tirar nem pôr. Conte também três suspiros.

Suspirou?

É nessa parte que você vai começar a pensar na vida.

Abra a cerveja e conte até dez.

De repente vai ter uma porta de vidro.

Quantos passos? Como assim quantos passos?

Distâncias são subjetivas! Você para pra pensar na vida e pá! O tempo passou.

Eu prometo que é só o tempo de pensar na vida. Você não vai se perder.

Viu a porta? Agora abre.

Sim, o pé direito desse foyer é enorme!

Vá de escada. São 120 degraus e a cura perfeita pra você esquecer sobre a vida em que pensou há alguns minutos.

Tá vendo as Espadas de São Jorge agora?

Então vem cá.

Tira os sapatos.

O feijão tá fervendo.

Senta no tapete de fuxico azul.

A cerveja ainda tá gelada?

Abre mais uma.

Dá um gole bem dado.

Agora aquele abraço apertado!

E agora?

Agora me conta do que tem lá fora.

Agora me diz todas as histórias que você guarda aí dentro.

Agora fala comigo até eu dormir.

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