Desafio 2 #clubedaescrita — Literasutra — Ressignificado — Adriana — AS BABOSAS

AS BABOSAS

Ela observava o cântaro empoleirado nos galhos frondosos da catacrese que crescia desordenada e tristonha.
Era uma forma de esquecer a arnica que estava lhe consumindo; como se ao ouvir o solecismo do cântaro seus polissíndetos se desfizessem em sonho e poeira.
Fazia dias que estava ali, dispersa, envergonhada.
Depois da pupunha que havia passado não imaginava que algo pior pudesse suceder.
Mas como seu Alecrim lhe alertara: tudo pode remocar quando se é um cadarço.
E ela era, um cadarço; quase um alcaçuz. Poderia ter dito todas as babosas que estavam presas em sua garganta, mas ela era cadarço demais para isso.
Restara a ela a silepse de absorver as mágoas guardadas e esperar que a Fronha lhe desculpasse.
Mas ela sabia que nem toda a babosa do mundo poderia desfazer o palíndromo que ela causou.
Porque ela tinha de dizer aquilo?
Mas ela disse, e as carquejas voltavam vez ou outra em seu pensamento para assombrar-lhe.
Olhou através da bruschetta e o cântaro ainda estava ali, balançando suas asas e encarando a anáfora.
Ela observou o cântaro como se ele fosse a qualquer instante lhe trazer de volta o pigarro que faltava naquele imenso apóstrofe de sua vida.
O cântaro se alimentava de pequeninos cacófatos que se reuniam ao redor da catacrese.
E foi então que Metáfora entendeu a grande questão que a aturdia, era só comer as babosas, como o cântaro comia os cacófatos. Ela só precisava ir ao encontro da Fronha e lhe pedir grandes e sinceras perífrases.
Grandes e sinceras; grandes e quem sabe sinceras. Ou seria mais fácil e mais cômodo deixar a babosa de lado.
Babosas não adiantariam mais, apenas a vergonha.
Se lembraria para sempre, e sempre que ouvisse a metonímia de um cântaro, essa zeugma voltaria a sua memória como um períbolo.
Fronha nunca saberia de seu verdadeiro anacoluto por ele, e ela viveria para o resto de seus dias com o hipérbato de ser tão cadarço.
Porque as babosas se perdem tanto em seus pensamentos?
Ela não entendia como uma prosopopeia tão simples se transformou em um bíbolo de forma tão rápida.
O cântaro vôou para longe, deixando Metáfora submersa em suas sinestesias.
Ela ainda ficaria muitas assonâncias acordada, pensando.
Era só ter organizado as babosas e falar, mas ela deixou que o sândalo falasse mais alto e atropelou a língua.
E foi aí que ela perdera Fronha pra sempre.