Agentes fake de saúde estão contaminando gente pobre?

Dorivândia Ribeiro
Clube de Realizadores
3 min readSep 2, 2021

Vídeos que mostram pessoas vestidas como agentes de saúde — com crachá, equipamentos de EPI e material para a realização de exame rápido — sendo xingadas e ridicularizadas estão circulando no Facebook e no WhatsApp.

Em um dos vídeos, quem está filmando diz que o homem da cena “é um falso agente de saúde, de esquerda, realizando teste com material contaminado”.

Na verdade, essas pessoas são contratadas pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) para realizar a pesquisa EPICOVID19-BR. O estudo é coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e é financiado e apoiado pelo Ministério da Saúde.

A pesquisa pretende estimar o percentual de brasileiros com anticorpos para o coronavírus e a velocidade de expansão da doença no Brasil.

Falha de Comunicação

O Ministério da Saúde se responsabilizou por contatar os 133 municípios participantes da pesquisa, por meio de ofício, mas parece que ocorreram falhas na comunicação entre o órgão e as prefeituras municipais, de modo que, em algumas cidades, os prefeitos alegam não ter conhecimento do estudo e, por isso, as equipes do Ibope estão tendo dificuldades para realizar a pesquisa.

Ou seja, além das fake news, as equipes ainda estão sendo impedidas de trabalhar, em algumas cidades, por conta de trâmites burocráticos e políticos.

Na cidade de Campinas (SP), por exemplo, pesquisadores foram abordados pela polícia, interrogados e não puderam realizar a pesquisa.

Em matéria divulgada pelo jornal local A Cidade, uma representante da equipe do Ibope explicou que muitos moradores que não sabiam sobre a pesquisa ligavam para o 156 e apareciam viaturas da polícia para impedir o trabalho dos pesquisadores.

No Mato Grosso, em pelo menos três cidades, pesquisadores foram presos.

Nota Oficial

A administração da UFPel, publicou nota oficial onde prestou esclarecimentos sobre a pesquisa e relatou as dificuldades das equipes para a realização do estudo.

Infelizmente, desde o início do trabalho de campo, no dia 14 de maio, as equipes da pesquisa vêm passando por diversas situações constrangedores, amplamente noticiadas na mídia. Em quase 40 cidades, os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando autorização dos gestores municipais, num processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos, visto que a pesquisa é integralmente financiada com recursos públicos”.

Na nota, a universidade esclarece que o projeto EPICOVID19-BR foi submetido à apreciação ética da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), tendo sido aprovado no dia 28 de abril de 2020, sob o número CAEE 30721520.7.1001.5313.

E explica que: “para a coleta de dados, foi contratado, após processo seletivo, o Ibope, empresa com larga experiência em estudos populacionais. Todos os requisitos éticos e de segurança estão sendo seguidos, incluindo o uso de equipamentos de proteção individual, a inclusão apenas de entrevistadores com teste negativo para anticorpos do coronavírus e instruções para o descarte dos materiais, conforme pactuado com o Ministério da Saúde”.

Três fases

Os pesquisadores do Ibope estão aplicando testes rápidos de detecção de anticorpos da Covid-19 e aplicando questionário socioeconômico.

O Ministério da Saúde forneceu 150 mil testes rápidos para a coleta de amostras da população, que serão colhidas em três etapas entre os meses de maio e junho. A primeira fase ocorreu entre os dias 14 e 21 deste mês nas cidades onde os pesquisadores não tiveram entraves para trabalhar. A expectativa é que 33.250 testes sejam realizados.

Fontes: UFPEL e G1

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