Alfabetizar via internet continua longe da realidade

Nathalia Barboza
Clube de Realizadores
3 min readSep 3, 2021

Séries de alfabetização sofrem com falta de recursos pedagógicos válidos no distanciamento do professor, que, mesmo assim, mantém esperança no futuro

Não é difícil entender e aceitar que a maioria das pessoas se sinta angustiada com a possibilidade real de “perder um ano de estudo” por conta da pandemia que afastou os estudantes das salas de aula. Imagina então para quem atende ou tem em casa uma criança em processo de alfabetização.

No Brasil, essa fase já é um imenso desafio por si só. E a situação de isolamento social só veio potencializar as dificuldades. Mesmo que a situação não seja tão dramática quanto a de certas etapas seguintes da vida escolar, em especial a do final do Ensino Médio, as primeiras séries do Fundamental tendem a sofrer bastante com a quarentena porque a escassez de alternativas tecnológicas para esse momento é maior. São raros os aplicativos e métodos digitais capazes de substituir o papel do professor alfabetizador e da própria escola ao lado do pequeno aluno no processo de aprendizagem das primeiras letras.

Meio professora meio anjo

“Fiquei muito assustada com a situação”, conta Shirley Aparecida Barboza, professora há 32 anos especialista em alfabetização dos primeiros e segundos anos do Ensino Fundamental I. Ela também dá aulas de Artes há 12 anos para os Fundamentais e Médio:

Esperança num bom legado

Apesar das dificuldades iniciais, a educadora Luana Serrato, que atua nas séries de alfabetização no Rio de Janeiro, tem um olhar mais esperançoso sobre esse momento e os impactos para o futuro das crianças:

Estrago pode estar nos indicadores futuros

Com muitas famílias em dificuldades, a pandemia fazer um estrago nos indicadores dos próximos Censos Escolares. Na edição 2018, publicada pelo Ministério da Educação, 96,9% dos alunos no 1º ano do ensino Fundamental encontravam-se na idade adequada para a série, independentemente de estarem matriculados na rede privada ou na pública e da localização da escola.

Por outro lado, o Censo mostra uma elevação considerável da distorção idade-série no 5º ano, revelando ser irregular a trajetória dos alunos, já nos anos iniciais do Fundamental, mesmo que a rede privada puxe o índice para cima com um maior sincronismo idade-série.

Segundo o próprio MEC, um dos aspectos que tiveram impacto na distribuição e no contingente de alunos na educação básica foi o comportamento dos indicadores de rendimento escolar. No ensino Fundamental, o Censo 2018 mostrou diferenças expressivas entre as taxas de aprovação por série. Apesar de superiores nos anos iniciais — de 98% no primeiro ano e de 97,2% no segundo -, preocupou a baixa aprovação no 3º ano (de apenas 89,5%), etapa típica de um aluno no final do ciclo de alfabetização, com 8 anos de idade.

Vale ressaltar que a alfabetização ao final dessa série é meta do Plano Nacional de Educação, que propõe um índice de 95% de alunos do Fundamental letrados na idade adequada.

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