Fora do país, ônibus e bike vencem disputa contra carro

Larissa Abrão
Clube de Realizadores
4 min readSep 7, 2021

Por Larissa Abrão*

A urgência de combater a disseminação do novo coronavírus acelerou novas alternativas de planejamento urbano, limpeza e desinfecção dos veículos do transporte público. Ao redor do mundo, surgiram inúmeras soluções emergenciais que podem se tornar definitivas.

Mulher branca de saia preta, tênis e mochila, em uma bicicleta branca com banco de couro.
Bicicletas surgem como alternativa de transporte saudável e sustentável (Foto: Unsplash)

“Quando a gente cria cidades mais igualitárias e policêntricas, só temos a ganhar”, afirma Julio Chiquetto, pesquisador do Programa Cidades Globais, da USP.

Neste sentido, a bicicleta é a maior aposta.

Sem promover aglomerações ou emitir poluentes e sendo boa alternativa para se manter em forma, as magrelas surgem como uma alternativa viável para evitar a disseminação da covid-19.

Além de tudo, a prática segura ainda torna necessário manter uma distância entre os ciclistas de pelo menos dois metros. “Tem que se considerar que a rua é um espaço aberto e diminui muito o risco de contaminação. É importante perceber a diferença de risco em relação ao confinamento dentro do ônibus”, ressalta Luis Fernando Lourenço, pesquisador do Programa Cidades Globais.

Bélgica, Inglaterra, Itália e França já despontam como exemplos de incentivo as bikes, através de políticas públicas e até da iniciativa privada.

Segundo reportagem da agência alemã Deutsche Welle, em Londres (Inglaterra), profissionais da saúde que trabalham na linha de frente do combate à covid-19 estão pedalando de graça, como resultado de uma ação temporária encabeçada pelos vendedores de bicicletas e empresas de mobilidade partilhada.

Por meio de medidas temporárias, as autoridades de Bruxelas expandiram em 40 quilômetros a rede ciclística. A bicicleta é estimulada como uma opção ao transporte coletivo, mas promete ser uma mudança permanente na capital belga. Em Milão (Itália), as políticas públicas são semelhantes, com propostas de conversão de ruas em espaços para pedestres e ciclistas.

Quando criamos cidades mais igualitárias e policêntricas, só temos a ganhar. (Julio Chiquetto, pesquisador)

Auxílio para pedalar

Na França é que se podem perceber medidas ainda mais concretas. Conforme publicação do portal Nexo, os franceses são praticamente pagos para andar de bike, após iniciativa do Ministério da Transição Ecológica e Solidária.

A principal medida do governo francês é um fundo de 20 milhões de euros para incentivar os cidadãos a pedalarem. O fundo funciona como um auxílio de 50 euros por pessoa, que financia pequenos reparos nas bikes.

Além do incentivo individual, o governo pretende instalar ciclofaixas temporárias e ampliação de estacionamentos para as bicicletas. Sem contar na ideia de gratificação de cerca 400 euros por ano para trabalhadores que optam por esse meio de transporte.

Há ainda soluções fora da Europa. Em Bogotá (Colômbia), já existe um planejamento de implementação de 73 km de ciclovias para diminuir a lotação do transporte coletivo. “A bicicleta combina a vantagem de diminuir a lotação e o congestionamento. Além disso, o ciclista está muito menos exposto do que em um ônibus ou metrô”, afirma Chiquetto.

Ele chama novamente atenção para Paris, que possui o planejamento de uma “cidade de 30 minutos”. E explica: “Quando a gente amplia a oferta de serviços, disponibilidade de trabalho e de lazer próximos à casa das pessoas, elas não têm que se deslocar por quilômetros todos os dias”.

Comparada à situação do Brasil, é como se existissem dois franceses e quatro brasileiros para cada bike em circulação nos dois países — 30 milhões de magrelas rodam na França, que tem quase 67 milhões de pessoas; por aqui, são 212 milhões de brasileiros e 50 milhões de bicicletas.

Não só limpar, desinfectar

Além de pensar em alternativas ao meio de transporte, muitos governos estudam como eliminar o vírus dos veículos do transporte coletivo por meio de novos equipamentos e sistemas de desinfecção.

A China desponta como o país que colocou soluções em prática mais rapidamente: usa a radiação ultravioleta (UV) para eliminar o vírus (os raios UV emitidos pelo sol são danosos para a pele humana, mas a frequência UV-C tem a capacidade de exterminar boa parte do vírus em um ambiente).

A tecnologia UV-C de desinfecção de veículos de transporte tem como referência a empresa Yanggo, de Xangai. Com 210 lâmpadas-tubo de mercúrio e duas salas próprias de limpeza em câmaras de desinfecção, a empresa higieniza até 250 ônibus por dia, segundo a agência France Press. E o mais importante: sem expor diretamente seus funcionários ao vírus.

Segundo Luis Fernando Lourenço, as soluções podem e devem ser adaptadas no Brasil, para garantir que, após o trajeto concluído pelo ônibus, seja feito o ciclo de sanitização, que aplica substâncias para eliminar o vírus do ambiente.

Antes de ser jornalista, *Larissa Abrão (@lari.abrao) sempre foi curiosa e inquieta. As experiências com telejornalismo e projetos voluntários a fizeram acreditar que o melhor de contar histórias é poder compartilhar lugares, pessoas e conversas. Ela participou do projeto Foca Realizador e faz aqui sua estreia no Especial Corona.

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Larissa Abrão
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Oi! Sou jornalista e aqui estão reunidas minhas reportagens, aproveite para conhecer mais sobre mim. Contato: abraolarissa@gmail.com