NO CATAR, NEM MUITO DINHEIRO EVITA A REGRA #FICAEMCASA

Regiane Bochichi
Clube de Realizadores
4 min readAug 31, 2021

No Catar, o Ramandan será comemorado em isolamento social mesmo com apenas 10 casos de covid- 19.

Fotos: Visit Qatar

Dez mortos. 8.525 casos. Esse é o balanço da pandemia de coronavírus no Catar desta sexta-feira, 24 de abril. É nesta data que se deu início ao Ramadan, o mês do jejum dos muçulmanos. E como esses dois eventos estão sendo vividos no país que tem o maior PIB per capita do planeta? Como em qualquer parte dos demais 184 países infectados: em isolamento social. O coronavírus não faz nenhum distinção, e o dinheiro não faz a menor diferença nesta hora a não ser para garantir um tratamento de saúde de primeira.

Todos os dias, às 18h local, a rede de TV Al Jazeera atualiza os números dos pacientes e mortos pela covid-19 e, agora, relata como serão as comemorações da festa religiosa de 71,5% da população que segue o islamismo.

Por conta da pandemia de coronavírus, pela primeira vez em 1400 anos a visita à cidade de Meca, obrigação anual dos muçulmanos, foi dispensada.

Reza a tradição que neste período, o jejum total é praticado do nascer ao pôr do sol. A noite é dedicada à confraternização com amigos e familiares. Geralmente, há uma refeição (sahur) compartilhada de preferência na madrugada e outra (iftar), na quebra do jejum. Todas elas, este ano, devem ser feitas em casa sem nenhum contato externo, como aconteceu com a Semana Santa para os católicos.

Por conta da pandemia de coronavírus, pela primeira vez em 1400 anos a visita à cidade de Meca, obrigação anual dos muçulmanos, foi dispensada.

As mesquitas também entraram na lista de locais proibidos e por isso, as cinco rezas do dia devem ser feitas em casa e, no máximo, com acompanhamento on-line do mulá. Os parques e o passeio Corniche, com sua praia pública, estão fechados. Quem se atreve a quebrar a proibição é preso. Simples assim!

Restrições à circulação

O lockdown total foi implantado apenas no bairro industrial onde vivem parte dos estrangeiros que trabalham em funções braçais. Nas outras partes da capital, Doha, o comércio também está fechado, mas a circulação fica restrita às compras de produtos essenciais e, como se trata de uma cidade onde o carro predomina — ninguém se arrisca a caminhar muito por causa do calor extremo — o máximo permitido por veículo é de duas pessoas.

Um levantamento do Gulf Research Center (empresa de análise de dados regional) aponta que 89,9% da população catariana é composta por estrangeiros que migram atraídos por um salário médio mensal superior a US$ 3 mil (cerca de R$ 17 mil). Dentre eles, há uma comunidade com quase mil brasileiros que vivem por lá com visto de residência e a convite do governo.

A grande maioria trabalha em empresas da família da Casa de Thani que, desde meados do século XIX, está no poder político e econômico da península de modestos 11 mil km² no Oriente Médio (menor que o estado do Sergipe). Um dos grandes empregadores de mão de obra internacional é a Qatar Airlines. Porém, quando vence o contrato de trabalho, o prazo para a saída de estrangeiros é de apenas 10 dias.

A empresa aérea, como a maioria do setor, está atendendo apenas o setor de cargas, e o aeroporto está servindo como hub para os voos rumo ao Oriente, principalmente à China. A maior parte dos funcionários está de férias e em licença com corte de 50% dos seus salários (que prometem ser repostos com ao fim da crise). Desde de 18 de março, a entrada no Catar é restrita apenas aos cidadãos do país — que são encaminhados para quarentena por um período de 14 dias assim que desembarcam. O sistema de saúde é público e, por ora, não há nenhuma previsão de necessidade de ampliação com hospitais de campanha.

O que não parou por lá, aliás, foram as construções dos dois últimos estádios que sediarão a Copa do Mundo em 2022 (há seis já concluídos).

Mesmo sem haver uma censura explícita, aplicativos como Skype, WhatsApp, HouseParty não funcionam e por isso nem sempre é fácil ter notícias fresquinhas à distância. Os brasileiros devem procurar redes de VPN para se comunicarem com os parentes e amigos daqui.

Sem comprinhas por enquanto

O fim do Ramadan acontecerá no dia 23 de maio de 2020. Nos tempos “normais”, são três dias de celebração, chamado Eid-ul-Fitr, mas ainda não se sabe como será evolução da doença até lá. Neste momento, a regra é clara: todos dentro de casa e sem praticar o esporte predileto dos que gozam da riqueza do Catar: shopping, shopping, shopping.

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Regiane Bochichi
Clube de Realizadores

Profissional de comunicação e transmídia com sólida experiência em ações de marketing e conteúdo jornalístico, adquirida em mais de 30 anos de atuação em empres