No fim da crise do vírus, seremos mais humanos

Nathalia Barboza
Clube de Realizadores
4 min readSep 3, 2021

Por Silvia Matos, para o Especial Corona

Eu não sei se conseguimos fazer todas as perguntas que ainda não foram feitas sobre a covid-19 como sugeriu o título do evento on-line “De jornalista para jornalista: as perguntas que não foram feitas sobre a pandemia covid-19”, que o Clube de Realizadores realizou em 1º de maio de 2020 por meio do seu Especial Corona. Mas garanto que foi mais uma boa oportunidade de trocar experiência e de ter mais atenção ao momento presente como sugere esse período de isolamento social no mundo todo.

O evento aconteceu por meio de uma plataforma de streaming. Foi uma espécie de comemoração virtual ao Dia do Trabalhador. Convidamos quatro mulheres jornalistas brasileiras que vivem em outros países, para conversar sobre a situação de cada lugar nesse momento de pandemia. A jornalista Gaby de Saboya foi a anfitriã e mediadora do webinar, que contou com a participação de 20 pessoas on-line, para debater com as convidadas Emanuella Camargo (Nova Zelândia); Karina Lopez (Itália); Larissa Rinaldi (EUA) e Lizzier Nassar (Portugal).

Boa otimista que sou, escolhi olhar este período na perspectiva do lado bom de tudo que temos vivendo. O despertar maior nesse momento, em minha opinião, é o olhar coletivo; o desejo de cuidar do outro como; o senso de responsabilidade de informar com verdade e combatendo as fake news.

Este olhar esteve presente no debate, a despeito de a nossa realidade, de janeiro para cá, estar sendo muito dura e triste, com a quantidade de pessoas acometidas pelo novo coronavírus e o número assustador de mortes provocada por esse inimigo invisível.

O melhor foi entender que é essa vontade coletiva de mudança (mesmo imposta por um novo vírus) que nos deixa ainda sem respostas para tantas questões. E que isso não é exclusividade da nossa bolha. Também na condição de jornalista, vejo o ressignificar de uma profissão que estava fadada à extinção ressurgir como serviço essencial de grande importância para trazer as informações verdadeiras e ainda combater as falsas.

Humanidade em primeiro lugar

Na ocasião, nós falamos sobre jornalistas, jornalismo, fake news, isolamento social, decisões de como conduzir as atividades da saúde e da economia, adaptações necessárias como as lives patrocinadas dos artistas, doações e o destino dessa arrecadação, esportes e as novas práticas, contraexemplos de autoridades incoerentes com seus cargos e a situação atual, turismo, aviação, eventos e aglomerações, todos esses assuntos em nível mundial.

No entanto, o que parece tão comum quanto a pandemia nessa troca é o despertar da humanidade para a solidariedade. Essa foi a principal mensagem que ficou desse experimento. Ficou entendido que um sentimento é comum a todos que estavam ali reunidos naquela tarde: a vontade de enxergar o outro e a necessidade de deixar de lado o egoísmo para pensar como servir ao ser humano.

Lizzier trouxe o exemplo da polícia de Portugal, que dedica parte do tempo do trabalho aos idosos. Os soldados vão até as casas deles para fazer-lhes companhia.

Karina lembrou que um sacerdote abriu mão de um respirador para si para salvar um jovem num hospital da Itália. Disse que isso foi uma das coisas que mais marcou a sua experiência nessa pandemia.

Já Larissa se impressionou com a quantidade de gente nos parques em Nova York ainda em meados de março e com a pouca atenção dos novaiorquinos às recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Emanuella contou que um aplicativo foi desenvolvido na Nova Zelândia para conectar jovens e idosos e assim promover companhias inusitadas enquanto esse confinamento não passa.

Aqui no Brasil, nós temos sido testemunhas de muitos atos de solidariedade também. É um cantar na janela, um olhar mais empático e cuidadoso com o morador de rua, arrecadações milionárias nos shows transmitidos nas plataformas das redes sociais, apesar de uma grande negação ainda, por parte da população que insiste em resistir ao isolamento e conduzir a vida social como se o vírus fosse somente uma “gripezinha”.

Volta à ‘normalidade’

Não temos prazo. Alguns lugares já conseguem prever uma programação de voltar à normalidade, como a Nova Zelândia, que já está no nível 3 de abertura do isolamento social. Até a Itália já consegue prever uma mudança de nível, mas o Brasil ainda oscila entre o pessimismo e o otimismo. Dentro dos cenários possíveis, a situação regular parece que só chegará em 2022, segundo a maioria dos que estavam presente ao evento.

Revisar valores

O que fica como lição a ser aprendida nessa pandemia é a compreensão de que uma grande mudança na forma de se relacionar é necessária. Precisamos revisar nossos valores, desacelerar, entender a ‘presença presente’, ser empático, ser resiliente.

Muito se fala em transformação digital, mas só estamos tendo essa compreensão a partir de agora e teremos uma resposta mais clara do que isso significa quando tudo passar e o novo formato de viver se estabelecer. Não teremos mais fronteiras, e isso é fato. Talvez ainda possam perdurar fronteiras geográficas por conta da disputa de poder, mas as barreiras da humanização já foram derrubadas, e estamos mais perto de sermos todos um só.

Assista ao evento completo:

*Silvia Matos (@matossilvinha), é jornalista, idealizadora dos projetos de encontros Inovatalk (@inovatalk) e Virando a Pauta. Atua como assessora de comunicação do Centro de Informática da UFPE há mais de 15 anos e adora temas ligados à inovação, comportamento e tecnologia, além de ser uma mulher privilegiada e encantada com as belas narrativas da vida.

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