O que me ensina um projeto de jornalismo na pandemia

Nathalia Barboza
Clube de Realizadores
4 min readSep 3, 2021

Por Silvia Matos, para o Especial Corona

São muitos os motivos para cancelar 2020. Analisando o contexto global, nenhum de nós temos muitos motivos para lembrar deste ano como uma época de boas memórias.

Um vírus novo aparece do outro lado do continente no final de 2019 e se espalha mundialmente como uma ventania e as consequências de um fenômeno como este. O resultado desse efeito tem sido a morte de milhares de pessoas em todo planeta, o isolamento social nunca vivido antes e um jeito novo de viver o dia a dia de quem está sempre com o alerta ligado, mais conhecido como “novo normal”.

Ficamos sem opção de fuga para qualquer lugar porque estamos vivendo uma crise sanitária mundial. As estatísticas com os números de mortos, desempregados, doentes, pessoas e negócios falindo etc. são assustadoras e só nos resta à fé, a esperança de dias melhores ou enxergar a vida em outra perspectiva na tentativa de encontrar o lado bom de tudo que estamos vivendo.

Mas, do mesmo jeito que nem tudo são flores, eu peço autorização e licença para mudar a expressão e dizer que nem tudo são espinhos. Eu acredito que os aprendizados estão sendo tão grandes quanto às dificuldades de 2020. Se quisermos dividir em grupos, os dos otimistas e os dos pessimistas, eu me enquadro no primeiro, sem dúvida. A vida é caminho e para um bom observador como eu, todo dia eu tento apreender o máximo de lições com o que temos vivido neste ano estranho.

Esse discurso já está tão batido quanto o novo normal, mas eu não posso deixar de contar que um dos meus tesouros, encontrado neste mapa estranho e imaginário de caça ao tesouro, foi participar deste projeto de jornalismo. Uma comunidade de realizadores resolve se juntar e trocar o desespero de não saber sobre o que estávamos vivendo e não poder mais programar o amanhã à reflexão e atitude de agir e fazer algo com leveza e diferente das ajudas oferecidas a todos. E foi assim que nasceu o Especial Corona do Clube de Realizadores.

Foi nesta página que eu me dei a oportunidade de resgatar o sonho adolescente de escolher o jornalismo como profissão. Apesar de sempre trabalhar na área, eu nunca tive a oportunidade de viver jornalismo na essência como fizemos até agora.

Foi da concepção do site, as possibilidades de colaboração, definições de pautas, matérias, artigos, articulação com fontes e convidados para outras ações, promoção e realização de lives e eventos on-line, produção de conteúdo e gerenciamento de redes sociais, reuniões de editoras, criação de um programa de mentoria para jovens profissionais com direito a ser mentora e aluna ao mesmo tempo, aprendendo a exercer uma nova atividade com este conhecimento acumulado ao longo dos meus 16 anos de formada. Mas, ainda, e de quebra, teremos um podcast com matérias destaque e a documentação histórica que registramos com um olhar criativo e cuidados para o coronavírus.

Tantos ganhos

Mais que uma universidade, este projeto do Clube de Realizadores, permitiu que eu me aproximasse de amigos que conhecia pouco como pessoas e profissionais, exercer melhor a minha cidadania com responsabilidade e empatia baseada no ensinamento de amar o próximo e o mundo, me conectar com pessoas, histórias, memórias e ainda resgatar valores esquecidos com o amadurecimento. São tantos os ganhos que não cabe perder mais tempo lamentando os dias de medo e desespero que vivemos no início da pandemia.

Para alguns pode até ser somente mais um site ou projetos criados em 2020, mas para quem se engajou nesta ideia e trabalhou com amor, dedicação, compromisso e responsabilidade equivale a uma loteria de riquezas reais e necessárias para uma vida plena.

Das maiores lições aprendidas, eu destaco o despertar do trabalho coletivo, a experiência do voluntariado como dádiva, feedbacks reais e espontâneos, o exercício da gratidão diário pela oportunidade de estar bem e poder servir, a compreensão dos valores e competências adquiridos com a experiência, a troca como uma escola que dá certo e ensina tanto quanto os livros e as aulas e a descoberta de uma nova paixão profissional: o mentoring.

Pode não parecer coerente com o sentimento coletivo que representa 2020, mas vencer esta pandemia com o privilégio de estar saudável, segura, criar novas oportunidades, viver velhas paixões, aprender muito, ter mais tempo disponível para redefinir prioridades e ainda colaborar com o meu tempo, o meu trabalho e através de palavras junto da minha comunidade num projeto como o Especial Corona, não me autoriza a reclamar deste caos mundial.

Só posso agradecer pelo muito que recebi e ainda tenho recebido. Obrigada, Universo. Obrigada, Clube de Realizadores. Obrigada, Vira Realizadoras.

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