O REGASTE DOS BRASILEIROS NO EXTERIOR

Regiane Bochichi
Clube de Realizadores
3 min readAug 31, 2021

São 4 horas da manhã deste sábado, 18 de abril. Em uma São Paulo escura, aterrissa no aeroporto absolutamente vazio o voo 9517 da Latam. Nele, 313 passageiros vindos de Londres e Paris. É mais uma resgate para repatriar brasileiros que estavam em dificuldades na Europa e foram pegos pela crise gerada pela pandemia sem ter como voltar para casa.

O voo, chamado de Estado, jargão diplomático usado quando é pago pelo Ministério das Relações Exteriores, chegou vazio na capital inglesa. No compartimento de cargas, frutas e outros produtos de exportação. Aliás, a agricultura brasileira deve ser uma das beneficiárias da paralização do comercial mundial. A previsão da Conab é que o Brasil exporte 113 milhões toneladas de grãos em 2020 e o campo deve produzir 250 milhões de toneladas.

Falando em alimentação, o serviço de bordo do voo foi reduzido para evitar ao máximo contato da tripulação com os passageiros. Foi servido lanche e massa em sacolas com água para que fosse rápido e seguro. Todos a bordo usavam máscaras. A classe executiva foi reservada para os idosos e havia muitas crianças acompanhadas por seus pais.

Segundo fontes ouvidas pela BBC News Brasil no Itamaraty, os brasileiros embarcados eram turistas que tiveram seu voos cancelados e outros que viviam no exterior, com ou sem documentos e que estavam passando necessidade.

Emocionadas com a volta e sem querer se identificar um senhora contou que o marido a expulsou de casa e ela não tinha para onde ir. Uma outra, era só elogios ao consulado brasileiro de Londres. O processo foi todo feito on-line e, frequentemente, era contatada para dar orientações e informações sobre a possibilidade e data que o voo iria acontecer.

Ainda há seis mil brasileiros espalhados pelo mundo a espera de um resgate. De acordo com o Itamaraty, 11,7 mil brasileiros já voltaram para casa (dados de 10 de abril). A maior concentração é Portugal com 1,3 mil aguardando um lugar em algum avião de carreira ou fretado. Em Londres, ainda restaram 70 pessoas. Desde a segunda quinzena de fevereiro, com mais intensidade a partir de março, diplomatas vêm trabalhando na tentativa de reacomodar passageiros que querem retornar. Outros voos fretados pelo ministério já buscaram brasileiros em países como Peru, Equador e Marrocos.

O setor aéreo opera desde o final de março com menos de 10% da oferta de voos domésticos existente antes da crise — e praticamente sem voos internacionais. O governo já acenou com um aporte financeiro do BNDES e estuda uma permissão para que as companhias aéreas trabalhem sob o modelo de um “cartel de crise”, combinando a oferta de voos e vendendo bilhetes de forma compartilhada. Atualmente, cerca 70% da frota da Latam está parada.

Os aviões que continuam no ar fazem basicamente o transporte de cargas. Na mesma modalidade de voo de Estado, aeronaves da Latam de transporte de passageiros, o Boeing 777 , foram adaptadas para trazer a carga também na cabine, além do porão, após autorização da ANAC. As Lojas Americanas vão custear o frete dos dois voos transportando 53 toneladas de máscaras cirúrgicas (15 milhões de unidades) que devem decolar amanhã, dia 19, de Guangzhou (China), fazer escala em Doha (Catar) e chegar no dia 21 ao Aeroporto Internacional de Guarulhos.

O Ministério da Infraestrutura é responsável por esta operação especial para trazer da China, 960 toneladas de máscaras compradas pelo Ministério da Saúde. Serão necessários outros 38 voos para trazer toda a carga ao Brasil e distribuí-la aos estados.

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Regiane Bochichi
Clube de Realizadores

Profissional de comunicação e transmídia com sólida experiência em ações de marketing e conteúdo jornalístico, adquirida em mais de 30 anos de atuação em empres