Rádio Cordel conecta arte e saúde mental na pandemia
Podcast dos alunos da UFPE se adaptou ao isolamento social provocado pela covid-19
Por Larissa Abrão*
“A arte existe porque a vida não basta”. É de maneira poética, inspirada pela frase de Ferreira Gullar, que a Rádio Cordel: Na frequência do Agreste criou uma temporada dedicada à arte e sua relação com saúde mental.
A rádio é um projeto de extensão dos alunos de Comunicação Social e Design do Centro Acadêmico do Agreste, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O projeto existe desde 2018 e, em meio à pandemia, remodelou sua programação para atender ao isolamento social.
“Estávamos com tudo pronto para entrar com a programação deste ano, quando iniciou a pandemia e as aulas foram suspensas. Desde março, mudamos a programação da rádio e temos feito temporadas”, conta a professora Sheila Borges, responsável pela rádio ao lado da colega Giovana Mesquita.
A temporada Saúde mental pela arte está no ar desde julho e contará com 11 programas, de 25 minutos cada. O objetivo é reunir experiências das mais diferentes expressões artísticas: fotografia, cinema, literatura, música, novela, jogos, desenho, moda, artesanato, artes plásticas, teatro e dança.
A série vem após outra temporada que explora a suspensão da Festa de São João em Caruaru, cidade onde fica o campus, e as consequências para a região, a professora Sheila sugeriu a conexão entre arte e saúde mental.
A ideia foi prontamente acatada pelos alunos: “Quem não escutou uma música que lembra de um amigo ou um amor que estava com saudade? Acreditamos que a arte teve e está tendo um papel muito importante nessa pandemia”, explica Bianca Rafaelly, aluna da UFPE.
Assim como ela, os estudantes falam mais sobre a experiência:
Rádio feita de longe
Com o isolamento social, a Rádio Cordel produz todos os episódios remotamente, cada estudante em sua casa. Reuniões de pauta, entrevistas, locuções e edições são feitas pelos estudantes nos próprios celulares, computadores e dados de internet. Mesmo que a universidade não possua um estúdio próprio, a mudança é grande se comparada ao Armazém da Criatividade, parceiro da UFPE nas gravações da rádio.
Uma das mudanças diz respeito à distância física propriamente dita e ao desconforto em produzir remotamente cada um de sua cidade de origem. Segundo o estudante Gabriel Pedroza, a quarentena em Caruaru de fato intensificou a percepção de isolamento dos locais, acostumados a receber diariamente gente de cidades menores do agreste de Pernambuco.
Acostumado a trabalhar perto dos demais estudantes, Daniel Nascimento acredita que a adaptação está rendendo bons frutos. “Produzimos remotamente via videochamada e entrevistamos as pessoas pelo WhatsApp, mas é complicado. Fazer tudo de longe é um desafio pra gente, mas estamos tendo um resultado bastante interessante”, pondera.
Essa ligação entre os estudantes é um ponto importante, principalmente durante a pandemia, ressalta a professora Sheila: “é um projeto que tem contribuído para mobilizar os alunos e criar uma rede afetuosa. Apesar de estarmos distantes, estamos próximos”.
Para os alunos, outro obstáculo foi garantir a qualidade do áudio sem utilizar a estrutura de um estúdio e equipamentos próprios. “Não tenho um estúdio em casa; não tenho um lugar com boa acústica e nem microfone. Tenho que me virar com o celular para gravar sem nenhuma interferência externa”, conta a estudante Victoria Mélo. Nesse momento, as gambiarras que todo jornalista conhece são úteis, como gravar dentro do guarda-roupa para que o som tenha uma qualidade melhor.
Rádio para todos
Seja ouvindo o radinho de pilha em casa seja pelo celular, no intervalo do trabalho ou no carro, durante horas no trânsito, o rádio segue sendo uma companhia para muitos brasileiros. Ele ainda é o segundo meio de comunicação mais popular, perdendo para a TV, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015.
Quem achava que o rádio iria morrer com o surgimento de outros meios de comunicação, viu o veículo se reinventar, com as versões web e os podcasts. Por definição, o termo “pod” vem do “personal on demand” (em português, pessoal sob demanda) e “cast” do “broadcasting” (radiodifusão). Na prática, o podcast é como um neto do rádio: um bate-papo sobre qualquer assunto em arquivo de áudio disponibilizado on-line.
Os alunos da UFPE perceberam essa característica versátil do rádio. E também apostaram no poder que o podcast tem na democratização da comunicação ao ministrar uma oficina de produção de rádio e podcast numa cidade próxima.
“Utilizamos os conhecimentos que aprendemos com a Rádio Cordel para ensinar a população a produzir seus próprios programas”, relata Victoria. A estudante complementa que aprender sobre rádio na universidade, colocar em prática no projeto de extensão e levar esses conhecimentos para mais pessoas “é caminhar um pouquinho em democratizar a comunicação”.
Acompanhe a Rádio Cordel
Todos os episódios da Rádio Cordel: Na frequência do Agreste estão disponíveis mas plataformas de áudios Spotify, Radio Públic, Pocket Casts, Overcast, Google Podcasts, Breaker e Anchor.
Confira as novidades também pelo Instagram @radiocordel e pelo site www.radiocordel.ml .
Antes de ser jornalista, *Larissa Abrão (@lari.abrao) sempre foi curiosa e inquieta. As experiências com telejornalismo e projetos voluntários a fizeram acreditar que o melhor de contar histórias é poder compartilhar lugares, pessoas e conversas. Ela participou do projeto Foca Realizador e faz aqui sua estreia no Especial Corona.