A arte de comer. Para que a comida não seja um problema.
Inspirado no artigo do The Guardian “No diet, no detox”, da Bee Wilson.
Vivemos tempos de ansiedade alimentar.
Podemos observar a nossa obsessão pela comida de diversas formas: seja pela busca incansável da dieta perfeita, alimentos milagrosos, a luta contra obesidade e a anorexia, ou pelas fotos de belos pratos no Instagram e toda a diversidade de especialistas que surgiram para nos ajudar a fazer o que durante toda a história da humanidade fizemos sozinhos:
Comer.
Sabemos o que nos faz bem – ninguém tem dúvida dos benefícios de ingerir mais vegetais, frutas, vitaminas e ômega 3. Sabemos que doces devem ser restringidos a momentos especiais e que frituras são exceção. Mas, então, se as pessoas sabem o que devem comer, por que os hábitos alimentares não mudam? Por que as dietas falham continuamente? Por que um monte de gente vive obcecado com o peso e continua insatisfeito?
Bee Wilson, jornalista e food writer do The Guardian, tem uma resposta:
a forma como abordamos a comida está errada. Segundo a autora, precisamos reaprender a arte de comer — e esta questão envolve nutrição e psicologia em doses iguais. Quer ver?
Não se esqueça: nós somos onívoros.
Isso significa que não nascemos sabendo instintivamente o que comer — esse é um aprendizado que se adquire ao longo da vida. E, portanto, o primeiro passo para começar a comer melhor é reconhecer que os nossos gostos e hábitos são mutáveis.
Não, nossa atitude diante da comida não está gravada em uma pedra. Infelizmente, somos levados a acreditar que já nascemos programados para gostar de doces e odiar verduras — o que acaba justificando a nossa inércia para mudar.
Eu já nasci assim, não consigo comer verduras.
Tentamos incansavelmente mudar aquilo que comemos, mas não fazemos um esforço para mudar como nos sentimos em relação à comida: como lidamos com a fome, como achamos que somos viciados em açúcar, como precisamos comer muito para ficarmos satisfeitos. E a lista não para.
Ao invés de tentarmos comer mais vegetais, primeiro temos que aprender a apreciá-los. O caminho para comer melhor e sem culpa só tem um sentido: aprender a ver a comida como fonte de saúde e felicidade.
Não é fácil mudar nossos hábitos alimentares, é verdade, especialmente porque vivemos em sociedade. Aquilo que comemos, quando comemos e o quanto comemos vai além da nossa fome e necessidades.
O que comemos está intimamente ligado ao campo social: temos os rituais, como café e pão pela manhã; as culturas, como comer pipoca no cinema; e a religião, quando comemos peru assado no Natal, em pleno verão. Por isso que, muitas vezes, mudar a nossa alimentação implica em mudar a nossa vida social — e isso não é tarefa fácil.
Nesse sentido, o jornalista Michael Pollan nos ensina uma grande lição: não existe nada de errado em comer comidas para ocasiões especiais (doces e frituras, por exemplo), pois elas estão associadas aos grandes prazeres da vida. O que você deve fazer é reservá-las apenas para esses dias especiais.
E claro, prepará-la com suas próprias mãos (isso faz toda a diferença).
Trate as guloseimas como guloseimas.
O problema que se tem observado é exatamente esse: a maioria das comidas que antes eram reservadas para períodos festivos — carnes e doces, por exemplo — tornaram-se alimentos de consumo diário, quebrando a nossa percepção de associá-las a exceções.
E isso não é nada bom. Por dois motivos: comemos "comida de festa" em qualquer situação e mais do que deveríamos.
A forma como comemos é construída ao longo da nossa vida, sendo a infância a época onde os nossos hábitos alimentares são mais facilmente consolidados: para o bem e para o mal.
As companhias alimentares entenderam isso e criaram um ciclo auto-perpetuado: elas lançam produtos com elevado teor de açúcar, sal e gordura — que atraem facilmente as crianças — para que elas se viciem.
Assim, essas mesmas companhias continuam lançando novos produtos com as mesmas características, pois serão esses os alimentos que as crianças irão preferir. Em pouco tempo, o regime alimentar delas é criado não por influência dos pais, mas pelas estratégias de marketing.
O grande problema das crianças crescerem rodeadas de produtos ricos em açúcar, sal e gordura é que elas esperam que todos os alimentos tenham essa mesma intensidade de sabor. E o que acontece quando um prato de vegetais chega na mesa?
Ao tomarmos conhecimento que as nossas preferências alimentares são aprendidas, ensinar as crianças a comer torna-se fundamental. Quantas vezes vimos (fizemos ou fizeram com a gente) pais colocarem beterraba nos bolos para que os filhos comam sem saber?
Como a criança não possui consciência do que está comendo, ela está apenas obtendo um benefício imediato — e não uma educação alimentar para o futuro. O mais interessante a ser feito é ajudar os pequenos, com o paladar em formação, a gostarem de vegetais de forma consciente, cativando-os através das suas múltiplas cores e texturas, cozinhando-os de forma saborosa e o mais importante: servindo como exemplo para os pequenos.
É preciso mostrar para as crianças desde cedo que comer comida saudável pode e deve ser gostoso. Só assim elas vão adquirir bons hábitos alimentares, associando a comida (de verdade) ao prazer.
Reaprender a comer é um trabalho gradual e constante, que se constrói de refeição em refeição, e que, no final, cria uma revolução na rotina.
Ter uma relação saudável com a comida é como um colete salva-vidas, que nos protege dos excessos e nos ajuda a conviver com uma sociedade que come quando não tem fome, que prefere alimentos industrializados por serem mais práticos e que largou a cozinha porque não tem tempo.
Isto não tem nada a ver com emagrecer ou ter o corpo perfeito. A ideia é chegar a um patamar onde a comida alimenta e traz felicidade ao invés de gerar doenças, ansiedade e quilos a mais. Simples assim.
É o seu corpo, alimente-o com amor.
Mudar os hábitos alimentares é extremamente difícil, mas está longe de ser impossível. Somos onívoros e por isso não nascemos sabendo o que comer. Quer criar um novo hábito? Que tal se associar diretamente a um produtor e receber os alimentos produzidos no sítio como se fosse a sua horta?
Através do Clube Orgânico, você assina uma uma cesta de legumes, verduras e frutas e recebe sempre no conforto de casa. A cesta é o nosso convite para você voltar à cozinha e começar hoje mesmo a fazer diferente. Afinal, para mudar só depende de você!
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