Caminhos da vida: direção, ritmo, possibilidades e potenciais. Como encontrar a força para transformar em realidades?

Vitor Hugo Cid
clubedaescrita.cc
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7 min readAug 23, 2022

“A sabedoria com as coisas da vida não consiste, ao que me parece, em saber o que é preciso fazer, mas em saber o que é preciso fazer antes e o que fazer depois.” Leon Tostói

“Nossa nova pesquisa estima que entre pouco mais de 0% e 30% das horas trabalhadas em todo o mundo poderão ser automatizadas até 2030, dependendo da velocidade de adoção.” — McKinsey, Novembro de 2017. 1

São muitos os motivos de alarde quando ouvimos sobre o impacto da automação no mundo do trabalho. Muitas vozes pessimistas sobre percentuais altíssimos de perda de postos de trabalho devido a substituição por robôs, numa visão distópica a lá Exterminador do Futuro e Skynet. Até mesmo Elon Musk em um vídeo disse temer pelo futuro da humanidade devido ao avanço tecnológico em Inteligência Artificial — apesar de esse mesmo medo não ter impedido o Sr. Musk de investir na mesma tecnologia através de seus carros inteligentes.

Por outro lado, existem muitos entusiastas promovendo a ideia da tecnologia alavancar o desenvolvimento humano criando mais empregos qualificados em detrimento de atividades entediantes — essas atividades sendo “escravizadoras” por obrigar horas intermináveis na mesma atividade, bem como vimos no filme Tempos Modernos com Charles Chaplin, e que hoje não se diferencia em nada de um emprego “colarinho branco” sentado por mais de 10 horas à frente de um computador, operando uma planilha de Excel. Viramos operadores de computadores.

Estamos caminhando para o Apocalipse Tecnológico ou para a Terra Prometida? Existe algum outro destino ainda desconhecido por todos nós?

Fonte: digital transformation and organizational change — Marketoonist | Tom Fishburne

Com o advento da pandemia em 2020, muitas empresas se viram num cenário nunca dantes navegado e tiveram que acelerar suas transformações digitais em velocidade exponencial. Não foi uma escolha, foi uma questão de sobrevivência. Muitas empresas não passaram por esse teste de fogo.

Vimos o quanto algo completamente desconhecido e “Imprevisível” transformou a sociedade — seja criando ou destruindo, inclusive vidas humanas de forma trágica. Uma das frases que eu guardo comigo é “Nada é permanente, exceto a mudança.” de Heráclito, nada mais tangível no momento atual.

Apesar de muitas pessoas serem esperançosas em um retorno à vida “normal” depois que o vírus “for embora”, o que vemos é na verdade uma vida diferente e em constante transformação. Nada será como antes. Isso não é motivo de desespero, pelo contrário, se você está vivo hoje é um motivo de gratidão por poder ter uma abordagem mais ativa na sua jornada. É sobre isso que quero falar um pouco e tentar oferecer uma perspectiva que me ajudou a encarar essa realidade não de um ponto de desespero e vazio existencial, mas de um lugar de uma relativa esperança de poder atuar nesta transformação, mesmo que seja apenas no âmbito pessoal — aqui lembro da frase do russo Leon Tolstói “Todos pensam em mudar a humanidade e ninguém pensa em mudar a si mesmo.”

Minha história começa em 2020, com a pandemia, e está em constante evolução. Hoje, 2 anos e meio depois, me encontro num momento de crise de meia-idade (tenho 36 anos) e próximo a uma mudança fundamental com a chegada do meu primeiro filho. As condições para uma tempestade perfeita foram criadas: uma inquietação ensurdecedora sobre futuro, sobre jornada, sobre realização, sobre legado. Na maior da parte do tempo tento ignorar essa voz interna e com isso bate aquele cansaço. Não dá pra fugir, dá? Quanto mais corro, mais perto da próxima inquietação fico. Então encaro, com um medo característico de quem sabe que terá que enfrentar seus próprios demônios para passar à próxima fase da vida, sendo que a vida em si é esse jogo infinito (como diria Simon Sinek2) e que em cada estágio ultrapassado, vem um outro mais desafiador.

Parece besteira, mas essas duas mudanças de vida no meio de uma pandemia me trouxeram muitos questionamentos sobre minha jornada de vida. Conversando com outras pessoas, percebi que talvez não seja tão “besteira” assim pois compartilhamos de questionamentos similares.

Quando encaro essa realidade, me percebo num pêndulo constante entre momentos de reflexão interna e outros de uma fuga exterior focando em trabalho, em hobbies, em atividades, em qualquer outra coisa para silenciar essa inquietação. Num desses momentos, com o pêndulo sobrevoando o lado interno, uma palavra bateu forte: PROPÓSITO. Sim, o grande PORQUÊ existimos. Não aquela palavra vazia que os coaches motivacionais jogam a torto e direito, mas sim um entendimento mais profundo do que me motiva e me faz levantar da cama todos os dias.

Nesse momento de reflexão surgiu a ideia principal desse texto. Explico: vivemos num mundo de transformações exponenciais e cada vez mais aceleradas — o que não irá mudar. Será que estou indo na direção que quero ir? Entender a direção é um exercício de autoconhecimento e fundamental para atingir um sentimento de autorrealização.

Aqui minha pequena reflexão levanta uma ideia: cada pessoa terá seu caminho próprio e a definição de alcançar esse propósito (ou sucesso) é uma definição mais impactante se partir de dentro (peço que fique comigo aqui, não vou inventar nenhum “7 passos pro sucesso” ou “receita mágica para prosperidade”, prometo!) e nessa hora me lembrei da frase do gato de Cheshire no Mundo de Alice:

Sim, se não sei pra onde vou, qualquer caminho serve. É essa a forma como devemos viver? No modo automático como o personagem do Chaplin? Correndo o risco de perder nossa própria essência sem questionar nosso caminho? Encontrar esse motivo interno e agir é vital para realizar potenciais. Criar novas realidades passa pelo entendimento da direção. Velocidade sem direção é receita para frustração, mesmo que seja inconsciente na forma de inquietações.

“O mistério da existência humana reside não somente em sobreviver, mas em encontrar algo que valha a pena viver.” — Fiodor Dostoiévski

É nesse lugar sem certeza de direção onde me encontrei diversas vezes: fazer faculdade X porque isso vai te fazer bem-sucedido (motivação externa), fazer uma especialização porque isso vai te ajudar a ter um emprego melhor (externa), arrumar um emprego numa multinacional porque isso é ter sucesso (externa), comprar um carro, casa, viajar para o exterior, etc.

Nessa hora você entendeu a ideia. Porém, quando é que você para pra pensar o que você realmente quer? No senso mais profundo, está alinhado com seus valores? Está alinhado com suas paixões? Proporciona a você a oportunidade de deixar um legado? E quando falo em legado, não estou falando em planos grandiosos de acabar com a fome no mundo. Aqui me refiro ao seu legado que pode ser deixar algo pra sua família ter orgulho de você, ser o melhor na sua área de atuação, ser alguém que marcou sua comunidade.

Onde tudo isso se conecta com o futuro do trabalho, com automação, com inteligência artificial e com uma pandemia? Pra mim, a mensagem clara disso tudo foi que eu preciso investir tempo numa jornada de autoconhecimento e explorar o caminho onde estou hoje. É esse o caminho que quero seguir? Ou preciso mudar de rota? Se for mudar de rota, quais as possibilidades? Mais importante, como alinhar isso com meus potenciais?

Confesso que ainda não terminei essa investigação e duvido muito que terminarei (lembra da certeza da mudança permanente?). Sabe por quê? Porque no fundo é uma maratona e posso valorizar minha jornada mais do que o destino final, aprendendo em todas as etapas de uma forma proativa. Ao invés de me desesperar em “vou perder meu emprego para um robô” ou “minha profissão se tornará obsoleta” fico com a mensagem de vou traçar um plano de navegação e investir no meu desenvolvimento.

Pra isso ser impactante ou mesmo pra eu ter esse senso de realização, é importante saber os meus valores e o meu propósito (ou princípio guia) para definir o próximo passo mais imediato, depois o próximo e depois o próximo do próximo. Sempre com essa visão de aprendiz e navegante: se minha jornada exigir uma correção de curso, posso realizar essa correção diante da minha própria realidade em uma abordagem mais pragmática e menos fantasiosa.

Outro ponto importante que irei abordar em momento oportuno é que não quero que essa reflexão seja um mundo de Poliana. Eu fui criado na periferia e sei bem como nem todos têm acesso a oportunidades alinhadas com seu propósito e esse papo todo é muito distante da realidade. Eu, como oriundo, dessa realidade, vou falar sobre jornadas possíveis e como o mundo mais imediato pode ser transformado através da educação. De forma alguma estou defendendo que se você definir um propósito de vida, tudo vai dar certo e você será milionário em 1–2 anos. Desculpe, mas você procurou o texto errado se essa era a expectativa. O que quero provocar é uma reflexão para sairmos do nosso sistema automático de crenças e refletir em possíveis alternativas para se desenvolver — isso sim, é a chamada desse texto: ao desenvolvimento contínuo. Essa é a nossa vantagem competitiva em um mundo em vias de ser virado de ponta-cabeça pela tecnologia.

Não creio em fórmulas mágicas ou sete passos pro sucesso, porque no fundo cada pessoa terá um conjunto de valores e propósito diferente. O exercício exige comprometimento e entendimento de quem sou. Sair do lugar-comum e se preparar para o futuro começa hoje trazendo consciência sobre essa direção e na sequência agir com mais foco e velocidade. Ou você arriscará continuar nessa “corrida de ratos” e quando tiver 70 anos de idade olhar para trás e se perguntar “o que eu fiz com minha vida?”.

Avante navegantes!

Referências

1 https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/jobs-lost-jobs-gained-what-the-future-of-work-will-mean-for-jobs-skills-and-wages/pt-BR

2 The Infinite Game — YouTube, Simon Sinek

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Vitor Hugo Cid
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Lifelong learner seeking his true calling. Believes the world is on the brink of an Era that will require Self-Awareness, Innovation, Creativity, and Compassion