Como retomei o gosto por aprender
Enquanto eu passava por um burnout e por uma depressão, tinha a sensação de que aprender algo novo me sobrecarregava mais do que as coisas que eu já tinha que dar conta no dia a dia. Depois de um longo tratamento para cada um desses diagnósticos, passei um tempo achando que demoraria para recuperar meu ânimo por aprender. Testava algumas coisas, mas acabava abandonando o processo e ficava ainda mais insegura. Até que conheci dois métodos relativamente simples e muito poderosos que me ajudaram no processo de me apaixonar de novo por aprender.
O primeiro método que divido é o Loop Simples da Aprendizagem¹. E, em seguida, aqui no texto, uma simplificação de uma mentoria² que eu fiz sobre “aprender a aprender”. Se você se percebe desanimada com o seu desenvolvimento, ou sempre tem outras prioridades, te convido a continuar lendo este artigo.
São 4 passos que compõem o Loop Simples da Aprendizagem:
1. Conhecimento: consuma uma parte do conteúdo do que você quer aprender;
2. Prática: não demore muito e não se apegue a consumir mais conteúdo. Pratique o que você aprendeu em alguma situação que não seja muito intimidadora. Muitas pessoas pulam essa etapa, o que é um erro. Aplicar o conhecimento é vital no desenvolvimento de uma nova habilidade.
3. Feedback: peça feedback sobre o que você praticou para alguém que possa te ajudar a se desenvolver nisso. Uma pessoa que saiba mais que você do tema — se for algo muito técnico — ou então uma pessoa que você considera sensata e que consiga te dar um feedback verdadeiro. Se não tiver ninguém disponível para te dar o feedback, faça você mesma uma análise da sua prática;
4. Reflexão: reflita sobre o que você aprendeu, aprenda com o feedback que você ganhou e pense nos seus próximos passos para continuar aprendendo;
5. Volte para o passo 1.
Vale reforçar que o método só é efetivo se realizado em looping — repetindo os passos; sem ter um fim. Mas claro, você pode interrompê-lo quando não for mais interessante para você se dedicar a aprender esse tema.
O Loop é muito útil pra mim não somente para absorver alguma informação, mas sim desenvolver alguma habilidade a partir dela. Ele traz efetividade para o meu processo de aprendizagem, o que no passado me ajudou a recuperar a minha confiança com o aprender.
Já o método “aprender a aprender” toca em um lugar muito quentinho do meu coração. Foi ele que me ajudou a recuperar o amor pelo aprender. Comecei a perceber que, na verdade, aprender me dá energia. O que foi muito benéfico para a recuperação do meu esgotamento mental.
Meu propósito com esse texto é que você consiga, a partir do “aprender a aprender”, refletir a respeito do seu processo de aprendizagem. E potencialize os frutos da sua aprendizagem por meio do Loop da Aprendizagem. A partir da combinação desses dois, consiga construir um processo que você confia e que te leva para um lugar de mais satisfação e confiança.
Explico então, de maneira resumida, mas ainda assim muito proveitosa, o ”aprender a aprender”:
Comece pelo o que aprender. O que você deseja aprender? Pense nos desafios que você não para de pensar; nas mudanças que você quer fazer na sua vida pessoal ou no seu trabalho. Qual o “comportamento melhor” que você quer ter? Se enquanto você lê esse texto você quiser anotar tudo que te veio à mente, recomendo.
Agora, reflita sobre os seus pontos fortes, os seus talentos. É sobre aquilo que faz com naturalidade, que você se sente bem ao fazer. Você deve saber ao menos dois talentos e isso já é suficiente para o exercício. Reflita como esse seu talento pode te ajudar a aprender o que você escolheu.
Com esses dois pontos em mente, vamos para o como aprender — definiremos as nossas fontes de aprendizagem. Para isso, recomendo usar o CEP + R, uma sistematização que resume as principais fontes de aprendizagem. O C é bem conhecido, de Conteúdo. Em seguida, as Experiências: testar na prática, viver, sentir. P de Pessoas, pares no trabalho, família, terapeuta, amigas, etc. Por fim, R de Redes, que são grupos e movimentos dedicados ao seu tema de interesse.
· Comece pelo C, anote os conteúdos que pode consumir sobre esse tema;
· Vá para o E de Experiência, que se conecta com a ‘Prática’ do “Loop de Aprendizagem”, pense sobre onde você poderá praticar esse conhecimento;
· Usando o P, defina uma pessoa que você pode trocar uma ideia sobre o tema. É para ela que você pedirá o feedback do passo 3 do Loop;
· Realizado esses passos, reflita sobre o que você aprendeu e sobre o processo.
Sobre o R, pessoalmente redes é algo que tenho dificuldade em definir no início e elas acabam vindo ao longo do caminho, então não se preocupe muito com ela nesse momento de definições.
Ressalto que não é necessário ter uma lista enorme de cada fonte de aprendizagem. É mais um guia de consulta para não faltar inspiração. Dar check em cada uma delas necessariamente não te ajudará a construir uma nova habilidade. O que fará isso é focar em obter algum conhecimento, praticar, pedir feedback e refletir. E tudo bem também se ao longo do caminho a direção mudar. O importante é fazer sentido para você ao longo dele.
O próximo passo do método é definir uma evidência e uma data para você atestar se e qual mudança está acontecendo a partir dos seus aprendizados. Aprender não é colocar mais conteúdo pra dentro, mas sim, colocar para fora, mudar a sua realidade de alguma forma.
Para finalizar, defina um momento de aprendizagem na semana, para se dedicar a esse tema que você se propôs. Uma dica é colocar esse momento na agenda, para evitar autossabotagem. Caso tenha definido 1 hora e a semana foi passando e você não conseguiu esse tempo, se dedique por 10 minutos, mas não deixe de fazer isso na semana. Esse é um momento dedicado a você, que surgiu de uma vontade sua de mudar algo.
Em resumo, aprender a aprender é definir o que você quer aprender; como seus talentos podem te ajudar; como você aprenderá (suas fontes de aprendizagem); definir uma evidência que mostra que está acontecendo uma mudança a partir do que você aprende; e um momento semanal para você se dedicar a esse aprendizado.
É válido fazer um lembrete: aplicar esses métodos facilitam, mas não torna o processo levinho e romântico. Esse guia não é o santo graal do desenvolvimento (isso não existe!). E também não foram esses métodos que me ajudaram a sair da depressão e me recuperar do burnout. Foi muita terapia, tempo, paciência, apoio da minha rede, e muitos etcs cabem aqui. Mas, definitivamente, esses dois métodos me ajudaram a me sentir funcional novamente. E hoje continuam me ajudando: me permitindo sonhar muitos novos sonhos. Afinal, aprender me dá uma segurança de que sempre haverá um jeito para resolver os problemas.
Referências
1. Kelly Palmer e David Blake, “Expertise Competitiva — Como as empresas mais inteligentes usam o aprendizado para engajar, competir e ter sucesso”.
2. Mentoria com o Luis, Reaprendiz. Recomendo com todo o coração para todo tipo de profissional. Obrigada pelos ensinamentos Luís.
