Não dá para terceirizar o seu aprendizado

Monica Dalge
clubedaescrita.cc
Published in
5 min readAug 17, 2023
Foto: Danielle Macinnes

Nos últimos quinze anos da minha vida tomei consciência da importância do aprendizado intencional e genuíno em meu dia a dia. Tarde, talvez? Será que existe idade para isso? Com certeza não, todos nós aprendemos ao longo da vida, alguns de forma mais consciente e intencional que outros.

Como consultora de Desenvolvimento Humano e Organizacional, percebo a importância de investir em autoconhecimento e autodesenvolvimento. Iniciei minha jornada com estudo de temas específicos relacionados à minha área de atuação. Nos últimos dois anos tenho ampliado o meu repertório com temas sobre aprendizagem, leitura de romances e clássicos da literatura e desenvolvimento da habilidade da escrita.

A inspiração veio do livro Aprendiz Ágil a partir do qual os autores revelam que aprender dá trabalho, e esse trabalho não pode ser terceirizado. Quando li que Barack Obama dedicava no mínimo uma hora por dia à leitura e Bill Gates leu um livro por semana durante a sua carreira e tirava duas semanas para a leitura todos os anos, percebi o quanto é importante priorizar o aprendizado.

Michael Simmons fala sobre o tempo dedicado ao aprendizado em seu artigo “Regra das 5 horas”. Ele diz que se você não está gastando 5 horas por semana aprendendo, está sendo irresponsável. O artigo propõe algo simples: dedique-se a aprender. Chama a atenção, também, para algo fundamental: aqueles que trabalham duro pela sua carreira, mas não se dedicam a aprender, configuram o novo “grupo de risco” do mundo do trabalho. Para ele, o conhecimento passou a ser o grande valor do mundo contemporâneo: trabalhar duro é a abordagem da era industrial para o sucesso e aprender muito é o seu equivalente na economia do conhecimento.

Para que o aprendizado aconteça, o conhecimento precisa ser aplicado e praticado!

Compartilho um aprendizado a partir da provocação de uma amiga muito querida. Desde que iniciei a minha carreira de consultora fiz inúmeros cursos. Sempre cursava um após o outro. Quando surgia um curso novo e interessante eu a convidava e, ela me perguntava: Você já aplicou tudo que aprendeu até agora? Como vai aplicar esse novo conteúdo em sua prática?

Desde então reduzi os cursos e passei a olhar para o que eu posso aprender com meu trabalho e com as minhas relações familiares ou profissionais. Notei que existem outras formas de aprendizado possíveis: aprendo com os meus clientes, com os meus colegas de trabalho, com a minha filha, com o meu marido e com os meus amigos. Cada um tem o seu jeito de aprender. O que funciona para mim é fazer pausas para avaliar e refletir sobre o que aprendi, por exemplo, com o meu trabalho: Como ele está atendendo as necessidades organizacionais e individuais dos meus clientes? Quais valores e impactos está gerando? O que não deu certo?

O que aprendi sobre mim

Notei que um dos fatores que impede o aprendizado é a falta de tempo pelo excesso de atividades, principalmente quando estamos falando de empresas.

Vivendo em uma sociedade que valoriza o super desempenho, superprodução e super comunicação, como poderia ser diferente? Os excessos estão causando doenças mentais, como depressão e ansiedade. A causa é o excesso de positividade — fazer coisas, sem interrupções, sem reflexões e sem contemplação — como descreve o filósofo Byung-Chul Han no livro “ Sociedade do Cansaço”. Esse incômodo também é meu. Sempre fui uma pessoa voltada à produtividade e resultados.

A teoria de Chul Han é demonstrada no livro Aprendiz Ágil pelo número de horas dedicadas ao trabalho e o impacto no aprendizado. J. Bersin, pesquisador e consultor internacional em temas de Recursos Humanos, publicou, em 2018, os resultados de uma pesquisa realizada sobre aprendizagem e trabalho, realizada em parceria com o Linkedin (2.400 respondentes). A pesquisa mostrou que o que mais inspira os profissionais é, em primeiro lugar, a natureza do trabalho em si e em segundo lugar, a oportunidade de aprender.

Outro dado importante da pesquisa é a relação entre o número de horas dedicadas à aprendizagem e os outros fatores que envolvem a atuação profissional. Para esta análise os respondentes foram classificados quanto ao tempo dedicado por semana à aprendizagem: 47% foram considerados medium learners, dedicando entre 1 a 5 horas; 46% são light learners, com menos de uma hora, e 7% são heavy learners, com mais de 5 horas. Os heavy learners, em comparação com os light learners, têm 74% mais probabilidade de saber onde querem chegar com suas carreiras. A conclusão foi: se você realmente quer gostar do seu trabalho, passe mais tempo aprendendo. Quanto mais você aprende, mais feliz se torna no trabalho.

Depois da leitura do livro de Chul Han, o meu impulso para fazer e trabalhar mudou. Consegui incluir em média duas horas de leitura e aprendizado no meu dia. Como? Decidi ler mais e retomei o desenvolvimento da minha habilidade de escrita. Aprender não dá mesmo para terceirizar e sem dúvida é mais prazeroso quando é feito em comunidade.

Escrever para mim ainda não é um processo fluido apesar de ter avançado muito no ano passado. Sozinha eu não coloquei a prioridade que eu gostaria para escrever os artigos desejados. Recebi e aceitei o convite para fazer parte da comunidade do clube da escrita, que apoia e incentiva os participantes. Pronto, desafio assumido! Então, empolgadíssima, retomei o processo. Para o primeiro encontro: estrutura definida. Para o segundo encontro: fiz o primeiro rascunho. Recebi sugestões e ideias para melhorar o artigo. Travei.

Para o terceiro encontro: Não consegui fazer a versão final para revisão da comunidade. Voltei para a estrutura. Fiquei frustrada. Estava sem ideias e ânimo para escrever. Investi uma semana lendo artigos do clube e pesquisando ideias, busquei pesquisas e informações nos livros lidos. E nada…Quando li uma mensagem no grupo de whatsapp da comunidade, me identifiquei, a pessoa escreveu que estava no mesmo estágio que eu estava. Alívio e incentivo ao mesmo tempo. Com isso consegui colocar as ideias em ordem e escrever algo que fizesse sentido para mim. Espero ter conseguido deixar algo valioso para você, leitor.

Aprender realmente exige vontade, disciplina, coragem e tempo, mas vale a pena cada minuto investido! Dá trabalho, muito trabalho e realmente não pode ser terceirizado.

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