O que a química pode ensinar sobre criatividade e liderança?

Otavio Falcão
clubedaescrita.cc
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4 min readAug 23, 2022

Você, assim como eu, pode não ter se dedicado tanto em matérias como química, biologia ou física na época da escola. Mesmo assim, sou um curioso e intrigado pela natureza. E acabo usando, com muita frequência, metáforas que fazem referências diretas a situações ou a processos naturais — como vai ficar evidente daqui a pouco.

Outro assunto que também tem mexido muito com a minha curiosidade é a relação entre criatividade e liderança. Assim como quem observa uma reação química entre dois elementos aparentemente distintos numa placa de Petri. Em reações como essa, existem substâncias que desempenham um papel de catalisador — sua função é a de estimular ou acelerar o processo. A que chamamos de catálise.

Assim como na química, uma pessoa líder tem a oportunidade de ser um agente de influência na cultura criativa da empresa. Removendo impeditivos externos ou promovendo interações que facilitem o processo criativo das pessoas, por exemplo. Pode até parecer óbvio ou intrínseco ao dia a dia da liderança, porém não é a realidade que encontramos.

Há uma pesquisa chamada The Creative Shift, feita pela Steelcase em 2017, onde vemos que apenas 40% dos profissionais entrevistados disseram que suas empresas incentivam a criatividade. Além de um fator cultural, é também uma preocupação no desenvolvimento humano, pois 69% dessas pessoas sentem que não usam sua criatividade em seu potencial máximo. E 61% dos líderes não acreditam que sua empresa seja muito criativa. São números bem críticos.

Daí podemos nos perguntar: quais os motivos para estarmos em uma situação como essa?

Eu tenho alguns palpites para colocarmos na mesa e refletir. Um deles, é o entendimento do que é criatividade. Muitas pessoas ainda acreditam que ela é um dom. Como um presente divino ou então um talento nato, algo inacessível caso você não venha ao mundo com ele. Outro palpite: é o paradigma de ser algo exclusivo de artistas, publicitários, designers ou dos “profissionais de humanas”. Por serem perspectivas equivocadas, não usamos e nem escolhemos estratégias eficientes para promover uma cultura mais criativa e acabamos piorando a situação.

Há quem opte por práticas e experiências artísticas, por exemplo. Essas interações funcionam — mas para um tipo de criatividade mais emocional e espontânea. A que usamos em momentos de forte imersão em nossos sentimentos. Ativamos as amígdalas no sistema límbico para processar as inspirações, e gerar pensamentos e ideias sobre as emoções acessadas. As principais formas de praticar são: escrita (poemas ou histórias fictícias), música, culinária ou dança, por exemplo. Porém, quando usamos essa estratégia para desenvolver uma criatividade mais cognitiva, as pessoas terão extrema dificuldade de traduzir do abstrato para o concreto.

Temos também quem usa a prática de metodologias de inovação para desenvolver a habilidade. E o que acontece nesse caso, é que as pessoas ficam mais hábeis em aplicar uma metodologia específica, não necessariamente em serem mais criativas. O foco está no desenvolvimento técnico, não comportamental. Pode até acontecer, mas é como jogar na loteria. E na maioria dos casos, essa aposta custa muito tempo e muito dinheiro.

A mesma pesquisa mostra que 77% dos profissionais ouvidos acreditam que criatividade será uma habilidade importantíssima para o seu futuro profissional. E eles não estão sozinhos, sabia? O Fórum Econômico Mundial diz que criatividade será a 5ª habilidade mais importante no mundo até 2025. Os dados mostram o quanto é necessário valorizarmos, cocriarmos e influenciarmos uma cultura mais criativa em nossas empresas. Só assim chegaremos a um futuro mais promissor em relação à essa habilidade. Mas precisamos agir no presente, no agora.

Nós não criamos nada do zero. Pense quantas coisas o ser humano criou totalmente do nada, sem usar algo que já existia no universo. Díficil? Impossível. Pois não existe!

Cena do filme “2001 — Uma odisséia no espaço” e caso você não tenha assistido, assista!

Te convido a considerar a criatividade como: a capacidade de se inspirar no que existe ao redor, interagir com esses elementos para fazer diferentes combinações e dar novos significados a elas.

Pensar dessa forma muda completamente a história! Deixamos de lado a busca frustrante por ter ideias ou criar soluções do nada. E passamos a compreender tudo que existe como peças de Lego, com as quais podemos fazer infinitas combinações. Mesmo não pensando dessa maneira, já estamos transformando o mundo ao nosso redor a todo instante. Agora, imagine quando tivermos essa consciência? E o mundo de possibilidades que estará diante de nós?

As pessoas já são criativas mesmo que não se sintam assim — ou não acreditem nisso. Elas precisam apenas entender como usam essa habilidade para então, se for necessário, aprimorar seus processos criativos. Mas na maioria dos casos, elas não conseguem fazer isso por conta própria. Essa transformação pode ser estimulada, principalmente, pela liderança. Ao apoiar e promover o autoconhecimento, o entendimento e o aperfeiçoamento da criatividade de seus colaboradores.

Igual a um catalisador que proporciona para os elementos de uma reação química: caminhos diferentes, mais velozes e com economia de energia. Os elementos necessários já existem, só precisam de uma liderança catalisadora para acelerar essa transformação.

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Otavio Falcão
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Protótipo de escritor. Designer formado pela vida e pela academia. Estrategista e facilitador em projetos de inovação. Curioso, fotógrafo e cozinheiro.