Recalculando rota, caminho alternativo para o sucesso

Ana Prata
clubedaescrita.cc
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5 min readNov 17, 2023

Você está a bordo de uma nave, seu ticket dá o direito a uma experiência com carros populares a 80 mil reais e apartamentos custando meio milhão. Nessa experiência você estará conosco, a geração millenials, mais conhecida como geração Y. Somos a população nascida entre 1981 e 1996, definição da Pew Research Center. Mas o intervalo que classifica essa geração pode variar dependendo da fonte (1).

Sou do último ano da geração, nasci em abril de 1996 e desde pequena fui incentivada pelos meus pais a estudar, já que eles não tiveram essa oportunidade. Quando eu escolhesse um caminho a seguir, seja qual fosse, eu teria que ser a melhor naquilo.

Escolheu ser bióloga, filha? Que seja a melhor da região, porque quando fazemos algo que realmente gostamos, somos recompensados”.

Longe de mim reclamar da abertura que meus pais me deram de escolher algo que realmente gostasse para fazer. Mas vou, sim, reclamar da ideia de se dedicar, ser reconhecida, crescer financeiramente, subsidiar o sonho da casa própria e de um veículo.

Durante dezoito anos de vida cresci com a promessa do sucesso após a graduação. Se meu pai sem terminar o ensino médio, conseguiu comprar um terreno, construir uma casa e educar três filhos. Seria fácil com estudo, né?

E não foi só meu pai, uma geração inteira de baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, prometeram e incentivaram seus filhos a estudarem para ter um futuro garantido. No livro ‘Não Aguento Mais Não Aguentar Mais’, Anne Helen Petersen discorre sobre a promessa do diploma só ter levado a geração Y da classe média a uma coisa só: mais trabalho (2).

E bem na nossa vez, na idade do sucesso, vivemos uma crise financeira (2008 a 2009) e contração econômica (2014) agravadas hoje pela pandemia. Hoje a geração Y é considerada pela BBC a geração azarada (3). Juro para vocês que compartilhei todas as correntes do Facebook para não ter azar.

É claro que o contexto econômico e social mudou drasticamente desde a época de meus pais, os boomers. E o nosso contexto também mudou, a relação que vemos a educação e o trabalho também é diferente da geração anterior. Queremos um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, tal qual nossos antepassados, digo pais.

Eles não recebiam mensagens de cliente as 21h de uma terça pedindo para reformular todo o material que seria entregue na manhã seguinte. A escala de trabalho do meu pai era exaustiva, lembro dele trabalhar de segunda a segunda. Mas quando chegava em casa, podia beber sua tão amada cervejinha sem o medo de receber alguma ligação de trabalho ou demanda.

Nossos pais nos ensinaram a ser os melhores em nossas escolhas, mas agora nos encontramos em um cenário em que ser o melhor pode não ser suficiente para atingir os marcos tradicionais de sucesso, como comprar uma casa e um carro.

Há quem diga que a geração Y não tem essas pretensões tradicionais de sucesso. Puro mito! Catherine E. Shoichet, em um artigo para CNN, escreve alguns mitos relacionado a geração. E um deles é que os millenials não têm o sonho da casa própria (4).

O problema é que vivenciamos altos preços de carros populares e apartamentos, a conquista da casa própria e do veículo pode parecer um sonho cada vez mais distante para muitos millenials. E não, não é só você que “ainda” não comprou um carro, ou que ainda não constituiu uma família.

Em seu texto, Catherina comenta sobre sonhar com a casa própria, mas que o sonho parece estar fora de seu alcance por causa dos custos altos. Entendemos você, Cath. Segundo a Época Negócios, 62% da geração Y afirmam que a meta de ter uma casa própria é mais difícil ou até mesmo impossível (5).

Estamos no mesmo mar, provavelmente em barcos e canoas diferentes. Entretanto, assim como nem tudo são flores, nem tudo é ruim para nossa geração. A geração Y é composta por aprendizes intencionais (ponto para grifinória!), conseguimos repensar nossas carreiras independentemente da idade (6). Paula Adamano, da BBC, afirma que somos uma geração atenta a questões sociais e somos a primeira geração a tomar atitudes contra a desigualdade profissional e salarial (3).

A geração Y está redefinindo o que significa ter sucesso e estamos mais focadas em experiências, conexões sociais, responsabilidade social e busca de equilíbrio, mesmo que isso signifique desafiar as expectativas convencionais.

Estamos causando um grande incômodo, muitas vezes em nós mesmos. Mas como já dizia o ditado “Mar calmo não faz bom marinheiro”, somos taxados por inúmeras manchetes como infelizes, inseguras, financeiramente instáveis, com burnout, ansiedade e depressão.

A maioria da força de trabalho no mundo são os millennials, sendo a primeira geração nativa digital. Colocamos intencionalidade nas nossas ações, nossa consciência social está fortemente relacionada ao desejo de fazer a diferença no mundo. Como a força de trabalho predominante, estamos transformando as normas tradicionais de sucesso.

Valorizamos experiências significativas, conexões autênticas e a busca por um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. Para esse equilíbrio, tomei medidas como separar um número para atender as demandas de trabalho e outro para meu uso pessoal.

Queremos mudar o mundo e ter boas condições financeiras. Quero que meu filho leve bem mais que um imóvel no nome, quero que ele leve tempo de qualidade com a mãe dele, momentos e vivências que dinheiro algum compraria.

Referências:

1. Michael Dimock, Defining generations: Where Millennials end and Generation Z begins, Pew Research Center. 2019 Acessado dia 10 de novembro de 2023. Disponível em: https://www.pewresearch.org/short-reads/2019/01/17/where-millennials-end-and-generation-z-begins/

2. Anne Helen Petersen, Não aguento mais não aguentar mais: Como os Millennials se tornaram a geração do burnout, 1° Edição. 15 de setembro de 2021, 336p.

3. Paula Adamo Idoeta, O que deu errado com os millennials, geração que foi de ambiciosa a ‘azarada’, BBC. 2021. Acessado dia 02 de novembro de 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57938082

4. Catherine E. Shoichetda, Millennials fazem 40 anos em 2023: tudo o que você sabe sobre eles pode estar errado, CNN. 2023. Acessado dia 3 de novembro de 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/millennials-fazem-40-anos-em-2023-tudo-o-que-voce-sabe-sobre-eles-pode-estar-errado/#:~:text=Defini%C3%A7%C3%B5es%20amplamente%20citadas%20no%20site,o%20in%C3%ADcio%20dos%20anos%202000.

5. Jaqueline Frizon; Camille Couto; Daniel Barbosada, Jovens repensam a carreira e o estilo de vida durante a pandemia, CNN. 2021. Acessado dia 04 de novembro de 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/jovens-repensam-a-carreira-e-o-estilo-de-vida-durante-a-pandemia/

6. Tracy Brower, Pesquisa mostra o que cada geração espera da carreira, Forbes. 2022. Acessado dia 04 de novembro de 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/carreira/2022/09/pesquisas-mostram-o-que-cada-geracao-espera-do-trabalho/

7. Renata Turbiani, Geração Z e Millennials estão mais preocupados com custo de vida e o futuro, indica pesquisa, Época Negócios. 2023. Acessado dia 02 de novembro de 2023. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/futuro-do-trabalho/noticia/2023/05/geracao-z-e-millennials-estao-mais-preocupados-com-custo-de-vida-e-o-futuro-indica-pesquisa.ghtml

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