O Design Aberto e as possibilidades de criação colaborativa.

Co.cada
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4 min readFeb 12, 2020

Por Eva Mota*

Lá na década de 90 um grupo de desenvolvedores de softwares estudiosos pra caramba resolveu que open source seria o melhor termo pra caracterizar o movimento que eles criariam. Uma abordagem até então nunca vista, na qual o código-fonte de um software ficaria disponível para uso, redistribuição e modificação por qualquer pessoa que poderia ter acesso a ele. O que a gente não sabia é que o open source ou “código aberto” influenciaria movimentos sociais, novos modelos de negócios e muito mais, de forma que isso seria difícil de reverter.

A partir daí, diferentes conceitos norteados pelo movimento open source surgiram pra definir as novas formas de trabalho que vêm aparecendo nas últimas décadas. No meu trabalho com design de mobiliário e interiores descobri um termo quase em versão beta de tão recente. O Open Design recebeu grande influência do movimento dos desenvolvedores de softwares, mesmo as formas de trabalho que o caracterizam tendo sido vistas já nos anos 80. O open source e o open design se parecem na medida em que as pessoas autoras e criadoras permitem que sua criação seja compartilhada e utilizada.

Mas, para algumas pesquisadoras, diferente da lógica do Código Aberto, no Design Aberto, as criativas e criativos de diferentes áreas, expertises e habilidades colocam à disposição de todos, por meio de soluções e oportunidades, seus talentos individuais. É mais sobre compartilhar, além do processo criativo, a ideia, do que necessariamente um produto fechado. É mais sobre criar colaborando. Colaborar criando especificamente através do design. Fazer dele um processo aberto, disseminando o conhecimento de forma mais igualitária e acessível. As relações podem se tornar mais fluidas, mais rápidas e sem barreiras desnecessárias como, por exemplo, a separação entre designers profissionais e amadores.

Segundo Heloisa Neves, pesquisadora do open design, esse movimento recente adota o sentido de co-criação ao invés da originalidade, pois as ideias são do mundo e podem ser compartilhadas com todos. Há os questionamentos, claro. De quem seria a autoria, então? Como ter esse modelo de negócio bem organizado com confiança mútua e retorno? Reciprocidade, confiança e clareza são necessários. Mas penso que as respostas podem vir por meio de tentativas, da experimentação.

O designer francês Pierre Lota aposta no compartilhamento e distribuição das suas criações em mobiliário a partir da venda de livros ilustrados com o que faz. Depois de ter morado temporariamente por lá, tive acesso ao trabalho do Pierre. Hoje recrio, à minha maneira, os móveis feitos com cabides e que ele resolveu abrir para o resto do mundo. Sabemos que ele é o autor das criações, há retorno financeiro por meio da venda de centenas de livros e, no meu caso, há confiança entre as partes, pois sempre cito a fonte.

A proposta é recriar móveis rápidos, de alto poder utilitário e economicamente viável, reaproveitando objetos de fácil acesso como os cabides.

Esse exemplo de open design nos dá noção de mais um prisma. Toma outra dimensão em relação ao design tradicional por conta da revolução da comunicação na internet e das informações em rede. Como faço por mim mesma, entro no campo de uma estratégia de produção que visa a prática como o “Do It Yourself” que deve sim estar a serviço do design, pois traz a realização para a esfera do real, da possibilidade.

Compartilho os tutoriais das criações dos móveis do Pierre Lota com quem acompanha meu trabalho nas redes sociais. Divido com quem lê meu blog todo o passo-a-passo. Torno acessível às diversas pessoas no interior da Bahia, por exemplo, o que é criado por um designer em Paris.

Além dos questionamentos feitos acima, outros estão presentes e vão levar a outras reflexões por algum tempo. Mas uma dúvida, que também já foi minha é o que move essas criativas e esses criativos a quererem abrir seus processos para o mundo sem ter noção do que vão receber em troca?

Howard Rheingold, referência no assunto sugere que o que anima as pessoas adeptas ao design aberto é a confiança nessa rede que se forma, além da expectativa por maior troca de conhecimento e aumento de oportunidades de sociabilidade. Concordo que é uma prática bem possível, se bem planejada e estruturada no que se refere à gestão e produção também. Acredito demais na potência dessa troca, afinal “Se você tem uma maçã e eu tenho outra e nós trocamos as maçãs, então cada um terá sua maçã. Mas se você tem uma ideia e eu tenho outra e nós as trocamos, então cada um terá duas ideias.”

*Eva Mota é empreendedora criativa, designer de interiores e jornalista. É Baiana, mãe de um trio de bichanos e adora uma boa risada.

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