O Uber e o Futuro do Trabalho.

Matheus Queiroz
Co.cada
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2 min readDec 5, 2016

Para bem e para mal o Uber continua sendo assunto e gerando polêmicas. Em uma das últimas vezes que usei o serviço fui atendido por um motorista graduado em contabilidade, com pós-graduação em finanças, que estava há quase 1 ano desempregado. Bom, tecnicamente ele continua desempregado, mas agora possui renda.

Afora a batalha corporativista dos taxistas tradicionais, que não irão conseguir resistir por muito tempo, certamente o centro do debate que vem sido travado mundo afora é exatamente esse: trabalho/emprego x renda.

Recentemente li uma entrevista de Michel Bauwens sobre esse assunto. Bauwens é um grande teórico da nova economia, especialista em cooperativismo e fundador da P2P Foundation. Não é, portanto, nenhum neoliberal, nem faz apologia da tal “flexibilização das leis trabalhistas”. O que ele defende é algo muito mais abrangente. Na entrevista ele afirma que governos e sindicatos precisam repensar a posição deles em relação às grandes plataformas digitais e demais empresas ligadas à economia colaborativa. Segundo ele não há como impedir o avanço do Uber e AirBnb, por exemplo.

A chamada economia digital não vai — e não precisa — gerar empregos suficientes para todos. Pra entender isso basta dar uma olhada na comparação entre o auge da indústria automobilística, cujo centro era Detroit (EUA) e o que acontece atualmente no Vale do Silício, na Califórnia.

Para Bauwens “a solução não é dar trabalho e sim renda para todos.” A vida toda os sindicatos, e a esquerda de um modo geral, lutaram para que o trabalhador fosse livre. Agora brigam para que a subordinação seja mantida, pois, grosso modo, é isso que significa um contrato de trabalho: a subordinação ao empregador. Temos, portanto, que buscar alternativas para dar proteção aos autônomos, pois esse parece ser um caminho sem volta.

A grande questão é que todo nosso sistema de proteção social está vinculado ao trabalho. Você precisa de um contrato de trabalho para ter acesso ao sistema de proteção social, plano de saúde, férias, 13º e etc. Então é esse modelo de seguridade social que precisa ser repensado e passar por um processo de ampliação para incluir a proteção também aos autônomos e informais, que muito em breve passarão a ser maioria. Em outras palavras, para Bauwens ao invés de tentar transformar o motorista do Uber num empregado deve-se formular uma nova regulação que obrigue o Uber a dar ao motorista o pacote de seguridade social que só é oferecido aos empregados de carteira assinada.

Isso pode parecer revolucionário ou idealista demais? Sim, um pouco de cada. Mas o fato é que precisamos estar abertos a essa discussão e compreender o mais rápido possível esse novo cenário.

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Matheus Queiroz
Co.cada

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