Propriedade vs Acesso: as Bibliotecas de Coisas podem mudar hábitos de consumo?

Matheus Queiroz
Co.cada
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4 min readJul 4, 2017
Libary Of Things — Londres

O compartilhamento de objetos é uma tendência crescente em todo o mundo e é um dos principais eixos da Economia Colaborativa. Segue o princípio de que não precisamos ter a propriedade de certos objetos, mas sim o acesso aos mesmos. Aplica-se sobretudo a itens que, no geral, têm um alto custo e são utilizados poucas vezes. O exemplo clássico é a furadeira, que passa a maior parte da sua vida útil guardada no armário ou na casa de algum parente que esqueceu de devolvê-la. Pode-se dizer que é uma resposta ao hiperconsumo que tem marcado o ocidente, especialmente a partir da segunda metade do século XX. Aos poucos vai tomando corpo um novo paradigma, em que a propriedade e o consumo vão dando lugar ao acesso e ao compartilhamento.

Neste novo paradigma o consumo é entendido como um meio para o bem-estar humano e não um fim em si mesmo. Quanto menor for o gasto de recursos para realizá-lo, mais proveitoso será para o ser humano, que disporá de mais tempo para realizar outras atividades que lhe permitam desenvolver-se e ter uma vida interessante.

Albert Cañigueral — Consumo Colaborativo

É nesse cenário que entram as Bibliotecas de Coisas. Na Europa e nos Estados Unidos diversos espaços têm sido criados com o objetivo de promover o compartilhamento de objetos. E devemos pensar objetos num sentido bem amplo. As bibliotecas emprestam desde uma simples chave de fenda até instrumentos musicais, roupas e equipamentos de marcenaria.

O primeiro contato que tive com esse tipo de projeto foi através da Shareable e, a partir da leitura desse artigo, comecei a me interessar pela ideia de criar uma biblioteca de Coisas. Sem muito planejamento e com poucas referências, passei a fazer parte da “construção” de uma Biblioteca de Coisas na cidade de Salvador, carinhosamente batizada de Bibliotreco.

Bibliotreco

Olhar essa imagem me faz enxergar, na prática, o tal Paradigma da Abundância. Em apenas alguns poucos dias de divulgação e sem ter ainda um modelo de funcionamento definido, pudemos encher prateleiras com os mais diversos objetos. Surgiram doações de todos os lados, desde um simples telefone até itens razoavelmente caros, como barraca de camping e aspirador de pó. Claro que fez uma enorme diferença o fato de que a Bibliotreco é um projeto pensado e executado dentro de uma Casa Colaborativa, a Nossa Casa — e conta com a energia e as ideias da incansável Camila Godinho.

A ideia, mesmo sendo meio estranha e desconhecida para muitos, reverberou imediatamente entre os membros e frequentadores da casa, o que só comprova a importância de ter uma rede que apoie esse tipo de projeto. Não existe Biblioteca de Coisas sem comunidade.

As Bibliotecas de Coisas mais bem sucedidas são aquelas que vão além de só emprestar itens. Elas também criam um forte senso de comunidade.

Gene Homicki — My Turn

O projeto está apenas no começo. Agora o grande desafio vai ser criar valor para as pessoas e fazer com que os objetos sejam compartilhados e circulem entre os usuários. Mas isso nós vamos aprender fazendo e escutando. Mas se tem algo que já está claro para nós é a importância de compartilhar e tornar acessível o conhecimento gerado no processo de elaboração e execução do projeto.

O grupo tem o objetivo de reunir pessoas interessadas no tema e compartilhar informações e referências que sirvam de inspiração para futuros projetos.

Esse já um primeiro resultado do grupo no Facebook. Uma pasta no Google Drive com diversos documentos sobre a estruturação de bibliotecas de coisas. Lá podem sem encontrados, documentos legais, textos de referência e listas de bibliotecas ao redor do mundo.

Nessa busca por referências e experiências que pudessem servir de inspiração encontramos muitas bibliotecas bastante interessantes. Algumas delas merecem destaque.

  • Share — Frome/Inglaterra.

Foi a principal referência para a criação da Bibliotreco. Disponibilizam na página uma pasta com todos os documentos e o histórico da biblioteca.

Primeira Biblioteca de Coisas do Canadá, possuem quase 2500 usuários e estão perto de superar a marca de 25 mil empréstimos. Possui em seu acervo desde equipamentos de camping até instrumentos musicais.

Sharing Depot.

Criada em 2014, dentro de uma biblioteca pública tradicional, já conseguiram arrecadar através de campanhas de financiamento coletivo quase R$ 60.000,00. Graças a essas doações hoje já possuem um espaço próprio.

Esses são apenas alguns exemplos, se você quiser conhecer outras Bibliotecas de Coisas ao redor do mundo basta visitar a página Local Tools e passear pelo mapa interativo.

Se ficou interessado em se envolver com esse tipo de projeto e até mesmo criar uma Biblioteca de Coisas, manda um Email ou conversa com a gente através da página do Co.cada no Facebook. Vamos compartilhar essa ideia.

Referências.

Cañigueral, Albert. Vivir Mejor Con Menos. [Livro] Disponível em Consumo Colaborativo.

Shareable. The Library of Things: 8 spaces changing how we think about stuff. [Online]

Shareable. Edinburgh Tool Library: Creativity, Community, and Cutting Resource Use. [Online]

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Matheus Queiroz
Co.cada

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