Cocôzap: empoderamento popular e luta por cidadania

Iris Rosa
cocozap
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2 min readOct 23, 2020

Sou Iris Rosa, nasci e cresci na Baixada Fluminense, onde também me formei em ciências sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Atualmente, sou doutoranda do Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia pela UFRJ. Cheguei ao Cocôzap pela pesquisa coordenada por Rodrigo Firmino e Andrés Luque-Ayala, que pensa ações populares que “harckeam o sistema”, ou seja, projetos que através da tecnologia pautam violação de direitos. A minha atuação no Cocôzap estava no escopo do que chamamos de uma “pesquisa-ação”, ou seja, pesquisadores que colaboram, que colocam a mão na massa. Desafiador e instigante buscar uma Universidade que privilegie a extensão, o diálogo com a sociedade.

A proposta do Cocôzap desde o início me surpreendeu por se tratar da disputa de narrativas e produção de dados que protagoniza a população mareense num formato extremamente inovador. Sabe-se que políticas ligadas ao esgotamento sanitário, acesso à água potável regularmente e recolhimento/tratamento do lixo nunca foram implementadas de forma plena nas regiões periferizadas da metrópole carioca. Digo periferizadas porque entendo que envolve uma série de políticas públicas que ao longo das décadas consolidaram territórios como a Maré e a Baixada Fluminense como territórios marcados pela ausência estatal e não como uma condição inerente às regiões habitadas pelas classes B, C e D.

Um grupo diverso, jornalistas, socióloga, gestor público, biofísica, analista de dados e oceanógrafo. Todos trabalhando com algo que nunca trabalharam. Deu certo! A minha participação no Cocôzap 3.0 me trouxe a perspectiva de que a sociedade civil inova, disputa e resiste às violações diárias que diminuem drasticamente a qualidade da vida da população. O Cocôzap demonstra o potencial que uma tecnologia de fácil acesso e amplamente disseminada como o WhatsApp tem para usufruto popular. Estimular as queixas enviadas ao número do Cocôzap é o caminho para construir uma base de dados que possa ser ferramenta para pautar políticas públicas compatíveis com a realidade vivida no território.

Vivemos uma pandemia sem Ministro da Saúde e ouvimos do chefe do executivo “brasileiro pula no esgoto e nada acontece”. Pautar um saneamento de qualidade em diálogo com a população local é fundamental para que um cenário como esse não se repita. Apenas através da emancipação e organização popular é que construiremos uma sociedade democrática.

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