'Dream team' Cocôzap — Descobrindo habilidades

Breno Souza
cocozap
Published in
4 min readJul 31, 2020

Por mais simples e autodescritivo que seja, o Cocôzap é um projeto que permite a todos os que passam por ele conhecer mais sobre si mesmo e sobre a sua própria comunidade. É aquela velha história de que não somos só aquilo que acreditamos ser. O Cocôzap te permite descobrir que há muito mais dentro de cada um de nós, do que nós mesmos conseguimos enxergar. Digo por mim mesmo, componente da 3a fase do projeto (mar 2020 — julho 2020) residi como bolsista por 5 meses e foi um dos períodos mais desafiadores da minha ainda breve carreira como oceanógrafo e ambientalista. O oceanógrafo é preparado para estudar os oceanos e se debruça por muitos anos nas correntes oceânicas, no relevo submarino, na exploração geofísica, no clima, nos animais marinhos e na interconexão dos ecossistemas globais. Mas o que alguém com esse perfil descobriu e contribuiu como bolsista do Cocôzap?

A ligação entre a minha trajetória e o projeto se chama Complexo da Maré, lugar onde cresci e onde moram a maior parte das minhas referências enquanto indivíduo favelado, conhecedor de seus direitos e ser pensante. Sim, passei a refletir sobre tudo à minha volta morando na Maré: violência, direitos humanos, oportunidades, cultura, lazer, esporte, amigos, acessos e aquela velha que todo mundo conhece… Meio ambiente. Sempre curioso em saber “por que o nome do meu bairro é Maré?” ou “o nome da cidade tem Rio, o nome do bairro tem mar, por que é tudo tão poluído?”, é até engraçado pensar que foi exatamente a curiosidade que me levou à oceanografia e foi o pertencimento ao território me fez querer canalizar todo meu aprendizado para minha própria favela. Foi quando descobri o Cocôzap, um projeto inovador, com extremo potencial, que mapeia o saneamento básico na Maré e nos permite acessar dados que simplesmente não existiriam e a partir deles construir nossas próprias narrativas socioambientais.

Meu objetivo na 3a fase era organizar e promover atividades de educação ambiental para divulgar o Cocôzap para mais pessoas e aproximar moradores e data_labe de um debate maior entorno do saneamento e suas inúmeras problemáticas territoriais. Meu planejamento era ir nas escolas, postos de saúde, associações de moradores, promover passeatas pelas comunidades e até rascunhamos uma tenda ambulante que permitiria aos moradores entrarem nela pra conhecer fotos, vídeos, trocar conversar e trazer suas queixas de saneamento básico. Até aí, tudo bem, eu já era acostumado com mobilizações pelo território. Foi quando de repente fomos atravessados por uma das maiores crises sanitárias do século, a pandemia do novo Coronavírus, que veio como tsunami nos planos de todo mundo e modificou as estruturas de trabalho de um planejamento que estava pronto pra entrar em ação. É aqui que eu volto naquela questão do início do texto: trabalhar no Cocôzap te permite conhecer muito mais sobre você mesmo, e durante uma pandemia, em que todo trabalho tinha que ser feito dentro de casa, então… É aí que você se permite e se descobre dentro de outros campos ainda maiores, no meu caso a descoberta foi o jornalismo.

Foi rascunhando textos para as redes sociais do Cocôzap que de repente eu me vi dentro das reuniões de produção jornalística do data_labe, dialogando com gente muito experiente e com jovens profissionais habilidosos. As pautas nasciam dentro das reuniões, e, “trocando as rodas do carro com ele em movimento”, fui aprendendo a construir roteiros, apurar informações, entrevistar pessoas diversas, transcrever corretamente as falas e juntar todas peças do quebra-cabeça para construir uma reportagem jornalística. E foram muitas: a favela pede água, junto e misturado, a epidemia da fome, coronavírus até no esgoto, resiliência é ser mangue na Maré e etc. Entre muitos medos, ansiedade e surtos, fui aprimorando minha contribuição jornalística ao data_labe e encontrando formas de lidar com todo cenário pandêmico.

Alem disso, a equipe da 3a fase Cocôzap se uniu e juntos conseguimos organizar o 1o Encontrão Ambiental da Maré (totalmente virtual), uma reunião que contou com a presença de vários coletivos socioambientais e pessoas engajadas com meio ambiente na Maré, foi um sucesso! Com a popularização massiva das lives, os membros da equipe foram convidados para falar da experiência Cocôzap em vários canais diferentes, trazendo ainda mais visibilidade para o projeto. A equipe da 3a fase também monitorou 15 famílias ao longo de 3 meses para compreender de que forma a precariedade nos serviços de saneamento básico afetam diretamente às famílias durante a pandemia, período onde manter a higiene adequada é essencial.

Mesmo diante das dificuldades impostas pelo home office e por todo desgaste associado à pandemia, as atividades (re)planejadas foram desenvolvidas com sucesso e chegar ao fim desse processo como bolsista traz um sentimento de gratidão e dever cumprido. A galera do jornalismo data_labe que me abraçou e a equipe Cocôzap que uniu forças, aos patrocinadores que permitiram a existência dessa fase com a entrada do "Dream Team" Cocôzap 2020, meu muito obrigado!! Sigo minha trajetória no projeto, agora assumindo responsabilidades maiores, mas que com certeza contribuirão para a expansão do Cocôzap e para que eu continue descobrindo novas habilidades. Permita-se crescer sempre.

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