O problema do lixo na Maré

Ruth Osório
cocozap
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5 min readMay 28, 2021

No dia 18 de maio aconteceu mais um Encontro de Saneamento da Maré, produzido em uma parceria do Cocôzap com o projeto Maré Verde. Foi a quarta vez que a gente se reuniu para discutir e encaminhar proposições para garantia de direitos sanitários na favela.

Dessa vez a proposta do evento foi trazer os problemas com o lixo na Maré. Quem circula o bairro sabe que por aqui a questão com os resíduos é antiga. Em muitos eventos que o Cocôzap já participou, se o tema fosse o lixo na Maré, a discussão era sempre mais inflamada. Isso porque nós moradores encaramos diariamente pilhas e mais pilhas de lixo pelas ruas, fora todos os problemas como os alagamentos frequentes e proliferação de animais vetores de doenças. Os serviços prestados pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) muitas vezes não dão conta da grande quantidade de lixo gerada pelas 16 comunidades do território.

Foto enviada por morador relatando problemas frequentes com o lixo na Maré

Além disso, não temos nenhum sistema de coleta seletiva dos resíduos. Quem faz esse trabalho, sem nenhum apoio da prefeitura e nem da Comlurb, são os catadores. Muitos moradores já reconhecem o trabalho dos catadores e separam seus resíduos recicláveis, mas a grande maioria não vê sentido em separar os resíduos já que eles vão ser coletados juntos pela Comlurb. Além disso, informações sobre separação de resíduos, coleta e reciclagem não são de fácil acesso para a população.

Em janeiro de 2021, o prefeito Eduardo Paes sancionou um projeto de lei que cria Centros de Apoio à Reciclagem em favelas do Rio de Janeiro com o objetivo de dar apoio aos catadores no recebimento de materiais, gerando renda para eles, e também realizar a separação dos recicláveis e envio para cooperativas. Propor um Encontro de Saneamento voltado para resíduos sólidos também foi uma forma de investigar e discutir como essa lei afeta o Complexo da Maré e quais são as ferramentas que a gente tem para acompanhar esse processo.

Para conversar todas essas questões com a gente, o evento contou com a participação de: Izabel Carvalho, doutoranda em serviço social, pesquisadora de lixo e favela e ex-moradora da Rocinha; Marcos William, gerente da Comlurb da Maré; Juliana Oliveira, moradora da Maré, uma das fundadoras do coletivo EcoMaré e estudante de enfermagem; e Leonardo Silva, mobilizador da Redes da Maré, ex-catador e também morador da Maré.

A Izabel trouxe para gente um pouco do panorama dos resíduos sólidos e todas as especificidades que as favelas têm nesse assunto. Reforçou que a Maré é um ambiente único e a gente precisa fazer com que os serviços de coleta de resíduos se adaptem a essa realidade para garantir que 140 mil pessoas tenham seus direitos garantidos.

O Marcos William é o gerente da sede da Comlurb na Maré e conhece mais do que ninguém o trabalho que a companhia faz no território. Ele falou pra gente um pouco da situação atual da Companhia, projetos futuros e os principais desafios.

Já a Juliana Oliveira é um caso de amor antigo do Cocôzap. Ela foi residente do projeto quando o Cocôzap estava nascendo e desde então a gente mantém contato. Moradora e ativista do coletivo EcoMaré, que trabalha com questões ambientais no território, a Ju levantou temas muito importantes como a culpabilização dos moradores pelo lixo espalhado na Maré e os impactos desse lixo no território.

O Leo narrou a incrível experiência dele como morador e ex-catador da Maré, trazendo a importância do trabalho dos catadores no território e da reciclagem. As formas que os moradores podem colaborar com o trabalho dos catadores, além do imenso desafio que esse tema traz para a Maré, também foram pontos muito marcantes da fala dele.

Ao final de todas as falas, a gente teve um momento incrível de debate com perguntas levantadas no chat da nossa sala virtual, onde cada convidado conseguiu falar um pouco mais e interagir com os participantes.

Nossa salinha virtual

O IV Encontro de Saneamento da Maré foi o segundo que fizemos durante a pandemia. Propor esse espaço de diálogo aberto em um formato online não é uma tarefa fácil. O primeiro entrave que a gente se depara é que, no geral, os moradores não têm acesso a internet de qualidade, além da falta que faz a interação corpo a corpo e a ocupação dos espaços para a movimentação em torno do tema.

Na tentativa de mobilizar mais moradores na temática dos resíduos e convidar para o Encontro, o Cocôzap, em conjunto com o Maré Verde, produziu também uma Oficina de Compostagem, que teve como convidadas a Christiane Fontoura, diretora da EM Josué de Castro (Vila do João, Maré), e a Lorena Froz, que faz parte da equipe do Maré Verde e também é fundadora do projeto Faveleira. Foi um momento incrível e uma forma especial de tratar a problemática dos resíduos sólidos na Maré de forma prática e pautando soluções. A oficina pode ser acessada no canal do data_labe no youtube e também no instagram @cocozapmaré.

Christiane Fontoura ensinando para gente como fazer um Vaso Compostor. Crédito: Ana Beatriz Oliveira

Além disso, produzimos diversos conteúdos no Instagram do @cocozapmare falando sobre os resíduos sólidos na favela. Corre lá para ver!

O Encontro fez a gente pensar como a Maré é um território gigante e múltiplo, onde cada comunidade enfrenta problemas diferentes mas que são alicerçados na negação de direitos que o morador de favela enfrenta todos os dias. Estamos em parceria com o Maré Verde, está articulando um Fórum de Saneamento da Maré cuja ideia é reunir moradores e aliados mensalmente para pensar ações e juntar forças na luta por políticas que sejam efetiva para a garantia um saneamento digno na Maré. Se você está interessado em fazer parte desse processo, manda um e-mail para gente: cocozapmare@gmail.com

Para assistir ao IV Encontro de Saneamento da Maré completo, é só entrar no facebook do Cocôzap:

https://fb.watch/5Lxc-0XVnk/

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