Qual diagnóstico do saneamento da Maré?

Samantha Reis
cocozap
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4 min readOct 26, 2020

Eu sou Samantha Reis, apaixonada por programação e desbravando a estrada da ciência de dados. Colaborei nesta 3a fase do Cocôzap nos dados e desenvolvimento de sistemas.

Durante 6 meses me debrucei nos dados do Cocôzap (que estão aqui) a fim de entender como o saneamento básico da Maré se comporta e como esse e outros dados podem ser uma ferramenta de tomada de decisão para discussões e passos futuros do saneamento da população marense. O maior desafio enquanto cientista de dados nesta fase do Cocôzap foi justamente encontrar esses dados que respondessem os questionamento feitos ao redor desse tema. Nessa busca incansável foi feito o levantamento do Censo Populacional da Maré (Redes da Maré) e do Índice de Progresso Social da Maré (Instituto Pereira Passos) que contém alguns desses dados.

  • Água

11.9% das notificações do Cocôzap são de vazamento de água e concentra sua maioria na Baixa do Sapateiro.

Segundo o Censo Populacional da Maré dos 47.758 domicílios (98.3%) possui água encanada dentro do domicílio, 0.9% possui água encanada fora do domicílio e em torno de 150 domicílios não possuem água encanada. Na qualidade da água da população marense o Censo mostra que 83.4% dos domicílios possui água filtrada, 16.4% não possui.

Já segundo o IPS (Índice de Progresso Social da Maré) 77.9% do Complexo da Maré estão acima da média do componente água e saneamento básico definido pelo IPS Maré, sendo 22.1% abaixo da média. A variável Água e Saneamento compreende: acesso e qualidade de água canalizada, acesso e qualidade de esgotamento sanitário, acesso e qualidade de banheiro.

  • Esgoto

O grande desafio desta trajetória de análises foi componente esgoto nos dados sobre a Maré. A principal pergunta foi: onde estão os dados de esgoto já que é a categoria de maior notificações no Cocôzap (40.5%). Esses dados não existem. Como fazer um diagnóstico se falta uma variável?

Segundo a variável Água e Saneamento do IPS RIO 2018, o Complexo, quando comparado a favelas como Rocinha, Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Jacarezinho, possui desvantagem relativa quanto ao acesso à banheiro, o que é também uma realidade geral no Brasil. Dados publicados pela OMS em 2015 apontam que 4 milhões de pessoas não possuíam acesso a banheiro no país, com cerca de 13 milhões de criança e adolescentes sem acesso ao saneamento básico em 2018 ( Ranking do Saneamento 2019 — Instituto Trata Brasil). E conforme dados do DATASUS mostram, em 2018 o país contabilizou mais de 233 mil internações por doenças de veiculação hídrica, sendo quase 50% em crianças de 0 a 5 anos.

  • Lixo

Segundo os dados do Cocôzap, 40.5% das incidências em saneamento nos territórios da Maré são na categoria lixo, que compreende situações onde o morador identificou que o lixo não estava acondicionado de forma adequada e/ou estava em local inapropriado e/ou situações onde o morador identificou que o lixo + entulho não estavam acondicionados de forma adequada e/ou estavam em local inapropriado.

Segundo a variável Qualidade do Meio Ambiente do IPS, a Avenida Canal - um território entre Vila do João e Conjunto Salsa e Merengue, tem a pior pontuação geral em componentes que compreendem: avaliação da coleta de lixo, reciclagem, avaliação das áreas verdes e presença de esgoto ou lixo a céu aberto nas redondezas.

Já o conforme as variáveis do Censo, 97% dos domicílios no Complexo da Maré possui coleta de lixo. Destes 96.1% possui coleta suficiente e 3.9% possui coleta insuficiente. Dos domicílios que possui coleta, 70.3% têm o lixo coletado na porta e 26% precisa levar o lixo até um local de recolhimento, por exemplo, caçambas. Na Nova Holanda cerca de 293 domicílios dá outro destino pro lixo.

9% dos domicílios da Maré não possui coleta de lixo, com o Parque União sendo o território com maior número de domicílios que não utilizam os serviços de coleta. 95.2% dos domicílios que foram declarados nesta condição deixam o lixo em terrenos baldio ou logradouro e destes o maior número domicílios estão no Parque União. 4.2% joga o lixo em canal, rio, valão e 0.7% queima ou enterra o lixo na propriedade.

Com essa percepção básica dos dados de saneamento dos 16 territórios do Complexo que tiveram ocupações diferente, podemos perceber que existe uma tendência de todos para os problemas da baixa qualidade de água, as precariedades de coleta, tratamento dos resíduos sólidos e etc. Mas cada um destes territórios tem suas necessidades quando discutimos saneamento básico na Maré. A falta destes serviços básicos impacta cada um de forma diferente e dificulta o fornecimento de um diagnóstico preciso que não leve em conta essas peculiaridades. Foram 6 meses de muita descoberta, estudo e aprendizado para tentar aplicar o máximo os meus conhecimentos como cientista de dados nessa fase do Cocôzap. Se você gostou do que falei e quer saber mais dessas análises só ir no GitHub do data_labe.

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Samantha Reis
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Acadêmica em Física Médica e apaixonada por programação. Andando pelos caminhos da Ciência de Dados.